BSB: Scott Redding fala à imprensa
Animado, com opiniões fortes e sem papas na língua, o britânico Scott Redding foi este ano uma pedrada no charco do Britânico de Superbikes, especialmente quando venceu as 3 corridas na ronda de Donington há dias, para se colocar à frente do Campeonato depois de um começo algo apagado, em que inclusivamente quem brilhou foi o seu colega de equipa na Ducati Be Wiser, o Australiano Josh Brookes.
Scott já era uma figura ousada durante o tempo que passou na MotoGP. O que não é fácil num campeonato repleto de nomes famosos e personagens marcantes, e onde a “marca” é quase tão importante como o que se consegue fazer no domingo à tarde em pista.
No entanto, apesar de todo o espetáculo registado em fotos, e das entrevistas sinceras nessa altura, pelo sorriso no rosto de Redding parece que ele está realmente feliz com a sua mudança.
“Estou a sorrir, estou relaxado. E estou realmente a gostar de correr e ganhar novamente ”, diz ele “O que não acontecia há algum tempo, por isso estou muito feliz por esse lado – como pilotos, queremos sempre aproveitar o que fazemos. Tem sido ótimo, os fãs foram mega, aceitaram-me muito bem. O paddock tem sido bom. É isso, estou a gostar mais do que pensei que iria acontecer o que é uma coisa muito boa!”
De facto, até mesmo pequenas coisas como ver os amigos com mais regularidade e dormir na sua própria cama no domingo deixaram a sua marca. “Eu sempre gostei dos meus GPs em casa, agora estou de volta a casa quase todos os fins de semana, o que é uma grande coisa para mim… uma coisa enorme para mim.”
“Gosto de estar rodeado de bons amigos, o que pode parecer estúpido, mas é algo que não se tem quando se está a viajar pelo mundo. se tem trabalho a cada semana… ”
Um dos maiores – e certamente mais inesperados – golpes na história da BSB, a confirmação da chegada de Redding à equipe Be Wiser da Paul Bird Motorsport a bordo de sua nova Ducati Panigale V4 R atraiu uma mistura de surpresa e interesse, e deu origem a um debate sobre se ele se iria dar bem numa máquina menos potente do que ele estava habituado ou se se iria adaptar com facilidade.
De facto, Redding entende as consequências das suas ações, aceitando que o seu palmarés o torna um favorito automático, antes mesmo de se considerar o desempenho da moto que utiliza.
“O primeiro objetivo é vencer o campeonato”, continua ele. “Todos estão à esepra que eu o faça, que posso entender completamente. Eu era um piloto de GP, tenho apenas 26 anos, dizem que ainda tenho aquela capacidade de vencer, e eu acredito que ainda a tenho.”
“Por isso, é o meu objetivo, mas por outro lado, obviamente não conheço a maioria dos circuitos, não conheço as Superbike, não estou habituado aos Pirelli e não corri sem eletrónica cerca de cinco anos. É uma grande diferença e foi como saltar para o lado fundo da piscina para aprender a nadar!”
“Muitas pessoas esquecem-se disso e acham que uma moto é uma moto, mas é bem verdade que há muitos parâmetros em cada moto, que é preciso entender rapidamente. Dei bons passos em frente e acredito no meu talento novamente. Fui direto para as Superbike e fui logo rápido, cheguei a pistas que não conheço e fui muito rápido e isso para mim é ótimo. Não duvidei de mim, apenas pensei que seria capaz de o fazer. Para mim, estou com uma das melhores motos na grelha e com a melhor equipa do paddock.”
“Não tenho desculpas e nunca uso desculpas. Se eu estiver a andar mal, digo que sou eu o problema. Eu sou sempre preto no branco nessas coisas. É por isso que eu disse que se conseguir uma boa moto e uma boa equipa, vou lutar pelo campeonato. E eu realmente acredito nisso. Se não acreditasse, não diria. Quando se tem uma máquina que pode fazer isso, a pressão é diferente – é quase como uma pressão positiva que me ajuda a andar mais rápido e é isso que eu gosto em corridas.”
“É diferente quando a moto é uma m**** que não faz nada e eles esperam que se consigam pódios, e não há nada que se possa fazer. Eu nunca invento desculpas se a moto não está a funcionar bem, vou dizer isso mesmo, mas sou um profissional, faço isto há muitos anos. Sei se uma moto não está a portar-se como devia…”
Para um piloto que andou no cenário internacional desde os primeiros dias, tornando-se mo mais jovem a vencer um GP em Donington Park em 2008, com apenas 15 anos de idade, Redding é muito reticente à ideia de usar a eletrónica para controlar uma moto, antes acredita na habilidade de sentir o que está por debaixo do piloto e reconhecer exatamente onde o limite está diretamente, através dos pneus, e não através de um computador.
Mesmo assim, com a BSB a proibir a eletrónica, Redding reconhece que a perspectiva de se adaptar a uma Superbike sem ajudas era assustadora.
No entanto, quando a PBM ofereceu para adicionar a eletrónica inicialmente durante o teste para ajudar à sua transição, Redding imediatamente rejeitou a ideia e atirou-se de cabeça – para uma reação intoxicante de prazer e medo.
“Para ser justo, eu odeio a eletrónica… detesto mesmo! Então, tendo uma moto sem eletrónica desde o primeiro dia, quando eles quiseram adicioná-la para ajudar na transição, disse-lhes para a retirar logo no primeiro dia!’
“Eu sei que tenho experiência, e que ia ser diferente e disse ‘que se lixe’, está tudo nas minhas mãos, cada volta é diferente e traz pureza à pilotagem.”
“Isso para mim é que é correr, torna tudo mais real para todos. O que estamos a fazendo com a mão é o que está a acontecer na roda traseira e na roda dianteira, não se pode facilitar nada. O problema é que com a eletrónica fica-se um bocado preguiçoso, faz-se 125 voltas e pode-se fazer isso 10 voltas seguidas, andar mais ou menos a três décimos do tempo mecanicamente, sem pensar muito..”
“Mas quando não há eletrónica, tem que se pensar um pouco mais, não há nada que salve aquela atravessadela, se não formos nós a fazer tudo bem. Vamos perder velocidade, temos de estar muito atentos ao que realmente se faz na moto”.
A brutalidade em pista também é igual à abordagem “regressar ao básico”. De facto, apesar de alguns pilotos notórios se assustarem com a perspectiva de fans e media se acumularem à porta da garagem ou espreitarem para dentro das tendas de hospitalidade, o relacionamento direto mais ativo que a BSB tem com os espetadores é um dos motivos porque agora o Campeonato excede rotineiramente o Mundial de Superbikes em termos de números de espectadores, tanto no Reino Unido como nos principais mercados europeus, como Espanha e Itália.
Como tal, apesar da diferença para quem veio da MotoGP, Redding está mais do que disposto a adaptar-se ao seu ambiente e fazer o BSB trabalhar para ele, e está impressionado com o produto e o regulamento que a MSV (promotores do Campeonato) criou, contra o formato global de Superbike.
“O BSB é bom, não tenho nada a apontar. É um campeonato nacional, não podemos esquecer isso e esperar ter tanto dinheiro como num campeonato mundial, e não temos… Porém, quando se trabalha com o que se tem, é muito bom e isso é o principal. Não é sobre o que está no paddock como nas corridas do Campeonato Mundial, aqui é sobre o que está a acontecer em pista e é isso que eu adoro.
“Pode pensar-se isto e aquilo, talvez a segurança de algumas das pistas eixe um bocado a desejar[em relação ao MotoGP], mas acho que é por isso que as pessoas adoram as corridas.”
“É o que é – todos os outros pilotos estão na mesma situação, e eu não posso mudar isso. Sabia ao que vinha, não podia reclamar. Acho que é por isso que me encaixo porque não sou essa pessoa, de me queixar ou lamentar. Temos que entrar a fundo e ir atrás do que queremos.”
Redding lidera o BSB por 6 pontos, com 3 vitórias na véspera da ronda de Brands Hatch no próximo fim-de-semana.