Rally Dakar, Etapa 1: Destaques de um dia cheio de surpresas e armadilhas

Por a 6 Janeiro 2024 16:22

O briefing dos pilotos de ontem à noite alertou todos que a etapa de abertura de hoje seria muito difícil. Depois de um início fluido, a segunda parte, após o reabastecimento, revelou-se de facto “brutal” com longos troços de rochas, algumas delas antigas pedras vulcânicas, que deixaram muitos rostos pálidos quando os capacetes foram retirados no final.

“Quase impossível de pilotar”, disse o Campeão Mundial de Rally-Raides Luciano Benavides, acrescentando que esta primeira etapa era “mais como enduro ou trial… Espero que não façam isso amanhã”.

“Foi rock and roll lá fora”, concordou Daniel Sanders, “parece que já fizemos cinco dias. Uma das piores pilotagens que já fiz na minha vida”, acrescentou Sam Sunderland, o seu companheiro de equipa GASGAS.

LESÕES E ABANDONOS

Infelizmente, não foi a primeira vez que alguns dos principais pilotos caíram na etapa de abertura. Tosha Schareina que ontem tinha conquistado a vitória no prólogo com a Honda e estava bem classificado, caiu ao Km 240 e partiu o pulso. A juntar-se ao espanhol a baixa do português Joaquim Rodrigues que caiu forte com a sua Hero e foi transportado para o hospital de Hal’Ula, mas também de Michael Docherty, que liderava a classe Rally2 quando também caiu aos 323 quilómetros.

ALERTA DA DIREÇÃO DE CORRIDA

Todos os pilotos sabem que o Dakar pode morder e a direção da corrida avisou que não seria uma primeira semana fácil. Portanto, não foi surpresa nenhuma vermos alguns dos pilotos de fábrica a certificarem-se de que fizeram uma largada nada interestelar. Há um longo caminho a percorrer ainda, 11 etapas e outras grandes dificuldades nesta primeira semana.

BRANCH UM JUSTO VENCEDOR

Ross Branch, da Hero Motorsports, estava a rodar perto de Schareina e parou para o ajudar até que os médicos chegaram no helicóptero – Branch perdeu cerca de 25 minutos, mas conseguiu o seu tempo de volta e com isso venceu a etapa. Claro que este resultado foi importante e merecido do ‘Kalahari Ferrari’, mas curioso foi ver que a maioria dos pilotos estava de olhos postos nas telas de cronometragem para verificar se o piloto do Botswana havia conquistado uma vitória na etapa. Creditado com os 16 minutos que perdera na ajuda a Tosha Schareina, isto deixou Branch como o vencedor da etapa. Um justo prémio pela sua atitude humanitária, a ajudar um colega de uma equipa rival.

OUTROS ‘HERÓIS’ DO DIA

Ricky Brabec ficou em segundo lugar da geral, embora 10 minutos atrás de Branch. Pode-se dizer que foi um dia de abertura característico do americano, o ex-campeão fez o trabalho duro pela manhã para fechar os líderes e depois soube manter-se firme durante as dificuldades da tarde.

Como primeiro piloto a partir, Mason Klein abriu caminho para todos na especial de 414 km. Foi um começo confiante e também teve uma vantagem impressionante em relação aos próximos pilotos durante todo o dia. Klein cruzou a linha em primeiro para terminar em terceiro lugar e ganhar mais de seis minutos de bónus de tempo no processo, além de entregar à Kove o seu primeiro pódio numa etapa. Se allguém disse que as motos chinesas não servem, pode então mudar de ideias!

A classe Rally2 foi vencida pelo sul-africano Bradley Cox, que impressionantemente conquistou o quarto lugar na etapa e esteve entre os melhores no geral no segundo tempo “brutal” e rochoso – resistindo quando as coisas ficaram difíceis, não muito diferente do seu pai, Alfie Cox. Lembram-se dele?

Jane Daniels, a campeã mundial de EnduroGP é outra heroina. Não só foi a mais rápida entre as senhoras, como foi ganhando lugares com a moto de fábrica da Fantic à medida que o terreno se tornava mais complicado, teminando a meio da tabela, no 55º lugar.

PORTUGUESES

Passando ao lado dos muitos desaires desta etapa, Rui Gonçalves (Sherco) terminou como melhor português este sábado (19º), porém, seria injusto não falar dos bons desempenhos também de António Maio (32º) com a moto da Yamaha Portugal, de Mário Patrão (43º) no ano em que corre com uma Honda ou mesmo de Bruno Santos (46º) no seu ano de estreia no Dakar. Alexandre Azinhais, 87º na etapa completou a classificação dos seis pilotos portugueses em prova.  

Amanhã, domingo, os concorrentes enfrentam outra longa especial de 463 quilómetros na Etapa 2 (Al Henakiyah-Al Duwadimi), com um longa ligação de 192 km até ao final e que se prevê bastante dura. 

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Ricardo Ferreira
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