Fernando Sousa Jr: “Fiz um verdadeiro Dakar”
Tal como o seu pai em 2010, Fernando Sousa Jr. cumpriu aos 28 anos um sonho antigo de estar pela primeira vez à partida do Dakar, a maior prova de todo-o-terreno do mundo. Com uma estrura própria, onde se incluíram os seus pais, e o apoio da francesa Nomade Racing para prestar assistência mecânica o piloto da IS3 Racing Team partiu à aventura.
No final de 15 dias mais “duros do que o previsto”, mas com o sentimento de dever cumprido Fernando Sousa Jr. chegou a Buenos Aires num positivo 42º lugar, num momento em que o piloto luso não escondeu ter “atingido o topo da minha carreira desportiva uma vez que todos os pilotos de motos sonham em participar e consequentemente terminar um Dakar”. O resultado entre os 50 primeiros foi o corolário de uma corrida consistente e sem cair nas muitas armadilhas que as duas semanas de competição reservaram para os concorrentes. “Na minha inocência apontei para um lugar no top 30 no final do Dakar. Contudo depois de começar a corrida constatei que esses lugares estão destinados para as equipas oficiais e semi-oficiais. Perante esta situação se ficasse dentro dos 50 primeiros já seria bom”, revelou Fernando.
O início da corrida ficou marcado por uma toada mais defensiva, fruto do piloto de Valongo estar “muito nervoso, pois foi um ano inteiro de preparação para este sonho. Investi muito do meu tempo nisto. Com o desenrolar da prova soltei-me e comecei a ficar mais à vontade e a ser mais rápido. No entanto nunca cometi excessos e tive sempre presente o objetivo de chegar ao fim. Nas etapas com mais navegação consegui dar mais nas vistas, enquanto nas etapas mais rápidas salvaguardei-me um pouco mais”.
Entre as maiores dificuldades que teve de enfrentar para chegar a Buenos Aires, Fernando Sousa Jr. elege a altitude e as longas ligações a que toda a caravana foi sujeita praticamente todos os dias. “O que me criou mais problemas foi mesmo a altitude, que me provocou mais problemas físicos, nomeadamente dores de cabeça e algumas dificuldades em respirar. As ligações também não foram fáceis, pois eram muito longas. Chegamos a uma fase em que já não temos posição na moto, o que acaba sempre por gerar um pouco mais de stress. São momentos em que dá para pensar em muita coisa, mas chega um momento em que já não existe mais nada para pensar”.
Contudo não foram só momentos difíceis que o piloto português viveu nesta grande aventura. A passagem pela Bolívia e toda afectividade da população do país liderado por Evo Morales para com toda a caravana sensibilizou bastante Sousa Jr. e os seus pais. “A Bolívia foi o país onde notei que existia um maior entusiasmo com a passagem do Dakar. Na ligação para La Paz, 30 quilómetros antes de chegarmos ao bivuoac estavam milhares de pessoas na estrada a dar apoio aos pilotos, tirar fotografias e até distribuíam beijinhos. Foi simplesmente arrepiante e um dos momentos que tanto eu como os meus pais guardamos na memória deste Dakar”, confidenciou Fernando Sousa Jr.
Rotina ocupada
Numa prova que tem como duração duas semanas e com as dificuldades inerentes a um evento como o Dakar é muito pouco o tempo livre que os pilotos têm para desanuviar todo o stress gerado pela prova.
“Acordávamos todos os dias entre as quatro e quatro meia da manhã. Depois fazíamos as etapas e chegávamos ao bivuoac entre as quatro e seis horas da tarde, dependendo dos dias. O tempo que tinha disponível a seguir era para fazer o roadbook para o dia seguinte, que às vezes durava duas horas, ouvir o briefing, jantar e a seguir tinha de ir dormir. Não tínhamos tempo para conviver. Se dormisse seis ou sete horas já era muito bom. Fiz um verdadeiro Dakar”, sublinhou o piloto nortenho.
Peças fundamentais em todo este processo foram os pais de Fernando Sousa Jr., que segundo o próprio foram um “suporte muito importante durante os 15 dias de competição. Foi fantástico chegar ao final das etapas e poder contar com o apoio deles. Não fizeram qualquer trabalho a nível de mecânica, pois tínhamos uma equipa contratada para essa função, mas ajudavam-me ao nível do tratamento dos meus equipamentos e de toda a logística. Faziam tudo para que nada me faltasse”.