As mais belas motos de GP, 12: A Norton Manx

Por a 30 Dezembro 2020 17:00

Mítica e ainda hoje extensivamente replicada por especialistas, a Norton Manx marcou uma era em que os privados compunham o grosso das grelhas do Mundial em motos semi-artesanais

o piloto da fábrica Harold Daniell disse que era tão confortável “como andar numa cama de penas”, dando o nome ao quadro Featherbed

Quando se fala da incrível série de títulos mundiais de Giacomo Agostini na categoria de 350 e 500, uma coisa que tem de ser levada em consideração é a concorrência da altura: Enquanto Agostini tinha à disposição tantas como 6 ou 7 motos MV Agusta para competir nas duas classes, simplesmente encostando uma quando partia, a sua concorrência principal eram privados viajando num furgão com a namorada e uma única moto.

A maioria da concorrência para as suas MV Agusta, uma sofisticada moto de fábrica de quatro cilindros, que debitaria cerca de 100 cavalos, eram velhas Matchless ou Norton privadas, por vezes 350 inscritas como 500 para participar na classe e permiti ao piloto ganhar mais uns cobres ao alinhar em 2 categorias..

Isto traz-nos a uma das mais espantosas e duradouras motos da categoria de 500, a Norton Manx, sem dúvida uma das mais bem sucedidas motos de corrida de todos os tempos, e também muito bela na sua simplicidade clássica.

Um dos segredos da monocilíndrica, feita entre 1947, antecedendo, portanto, o advento do Campeonato Mundial, e 1962, era o quadro duplo-berço Featherbed, projetado pelo Irlandês Rex McCandless.

A primeira versão DOHC estreou-se em 1937, e entre 1931 e 1954 a Norton venceu todas, menos duas das corridas do TT Sénior, e muitas vezes preencheu os três primeiros lugares.

Porém, a Manx datava ainda da mais cedo, de 1927, quando a primeira versão, ainda SOHC levou Alec Bennett à vitória no TT da Ilha de Man desse ano.

Em 1950, apareceu o novo quadro desenhado por Rex McCandless. Um duplo berço de aço tubular, com uma suspensão traseira por braço oscilante, as suas características de comportamento superiores influenciariam o design de quadros nas próximas décadas, até às motos japonesas dos anos oitenta.

Questionado sobre como era andar na nova Norton, o piloto da  fábrica, Harold Daniell, respondeu que era tão confortável “como andar numa cama de penas”, dando o nome ao quadro Featherbed.

O nome Manx foi adotado em 1947 e o modelo oferecido para venda aos privados em 1951, mas com menos de 100 fabricadas a cada temporada, só eram dadas a pilotos de habilidade comprovada. O Modelo 40 DOHC de 350cc e Modelo 30 de 500cc eram construídos à mão por uma equipa de menos de 10 homens na oficina de competição de Bracebridge Street, na fábrica de Birmingham.

O curso era muito longo, com quotas de 79 x 100 mm, e apesar da dupla came, a cabeça era de 2 válvulas e a caixa era de apenas 4 velocidades.

Os cárteres eram vazados em liga de magnésio Elektron, e para minimizar a vibração, as cambotas eram maquinadas a partir de um bloco integral com os volantes, para aumentar a rigidez.

A distribuição continha cinco veios com cinco engrenagens, que eram cortadas manualmente, não maquinadas, ao tamanho certo.

Os motores novos eram sempre colocados durante duas horas num banco de ensaio antes de serem desmontados e reconstruidos para venda.

Tal era a robustez do conjunto, que um dos muitos pilotos do “Continental Circus” que percorriam as pistas europeias de corridas, vivendo de ganhar dinheiro de alinhar ao longo da época, disse que um motor duraria uma temporada inteira sem ser desmontado. Daí a fama do motor Manx ser à prova de bala. O lado menos era que dispunha apenas de cerca de 47 cavalos, ou metade das MV Agusta, o que explica em parte o sucesso em par de Agostini… seria como hoje colocar Márquez numa RCV contra uma grelha de Moto2!

No entanto, as monocilíndricas Featherbed ainda eram a espinha dorsal das corridas internacionais em 1963, quando nove dos 20 melhores lugares da série do Campeonato do Mundo de 500cc desse ano foram ocupados por uma Norton Manx.

Nesse ano, Mike Hailwood assumiu o título na MV Agusta, mas Jack Ahern foi segundo na sua Norton. O último modelo da Manx saiu de Bracebridge em Janeiro desse ano, mas continuariam a aparecer na grelha até 1969!
Em 1965, o domínio foi ainda mais notório, com Hailwood a vencer de novo na MV, mas 9 Norton Manx nos primeiros 15 do Mundial!

Tal era a robustez do motor que muitos foram usados em carros de corrida da época, dando aliás origem às híbridas Triton, (TRIumph+norTON) em que os numerosos quadros Featherbed livres eram usados com motores Triumph.

Embora sem um único título de 500, a Norton Manx ainda venceu 21 Grandes Prémios na categoria rainha e 20 na categoria de 350.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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