Victory Judge: A juíza Americana
A Judge é a mais desportiva das cruiser existentes na gama Victory. Uma moto com uma posição de condução mais agressiva e com encantos que aumentam a tentação de sair das leis do quotidiano
Há uma satisfação inegável no cheiro a pele do casaco e no calçar das luvas antes de alçar da perna para me sentar na Judge, uma das mais desportivas cruisers da Victory, se é o que termo se pode aplicar a este tipo de moto. Faz tempo que não me sentava numa moto com esta posição de condução, com a Judge a destacar-se das outras cruisers da marca precisamente pela posição do guiador, que obriga o tronco a inclinar-se para a frente e a esticar os braços. Uma postura que acaba por ter um efeito psicológico, a ponto de me fazer sentir um verdadeiro easy rider pronto para atravessar a América com o mesmo estilo do Peter Fonda e Dennis Hopper. E este está longe de ser o meu tipo de moto preferido, mas assim que começo a rolar no asfalto, a Judge não poupa na sedução.
Na verdade, a sedução começa um pouco antes. Pelo design, a forma do guarda-lama traseiro, as tampas com o número 106 – alusivo à capacidade do motor V Twin em polegadas cúbicas – e pelos pneus Dunlop Elite II com letras brancas. São largos e estão montados em jantes de 16 polegadas com cinco braços. A Victory recorre a um termo curioso para designar a filosofia da Judge: um muscle car de duas rodas.
Como qualquer muscle car, o motor assume o protagonismo e o V Twin com 1731 cc é o principal responsável pelos sorrisos mais rasgados. Não só pela contribuição estética, mas sobretudo pela força e disponibilidade que são os cartões de visita de um motor que encanta desde muito cedo pelo som e pela resposta ao punho do acelerador. A caixa de seis velocidades é fácil de usar e é ruidosa nas engrenagens. O que podia ser um defeito em qualquer moto, mas na Judge, o som do metal a bater, faz parte do seu encanto. Parece ridículo, mas assumo que fui conquistado. O que não quer dizer que tenha perdido capacidade de objectividade na análise, aliás há pormenores que me fazem torcer o nariz numa moto de 16 650 euros, como a porca e o parafuso visível entre as ponteiras de escape. O rude pode ser intencional, mas merecia um acabamento mais cuidado.
A rolar
Claro que este pormenor é esquecido quando se começa rolar na estrada e a gozar os prazeres mais básicos de andar numa moto como a Judge. Graças ao assento mais cavado (a altura é de 658 mm), a posição é mais baixa, o que faz com que velocidades de cruzeiro na ordem dos 120 – 140 km/h sejam toleradas sem grande castigo do vento. Claro que há sempre motor para deformar as bochechas e fazer com que os lábios não consigam esconder os dentes para quem usa capacete aberto, mas como o próprio nome indica, a Judge é uma cruiser. Foi feita para rolar. Sem limite temporal. Sem pressa. Ainda que a tentação de enrolar o punho e sentir a aceleração esteja sempre presente. O motor faz esquecer os 300 kg desta Victory (mais os 78 kg deste condutor optimista em relação ao seu peso), os quais são mais lembrados nas deslocações citadinas. Manobras é tudo aquilo que não queremos ter de fazer com a Judge e qualquer descuido, a gravidade impõe a sua lei. O diâmetro de viragem é reduzido e os braços ficam no limite da extensão quando se vira o guiador totalmente para um dos lados.
A Judge precisa de velocidade para se sentir em casa e estrada aberta é o palco ideal, com o escalonamento mais longo da sexta relação da caixa a ser uma espécie de overdrive. Boa velocidade de cruzeiro a uma rotação baixa. O depósito de 17,8 litros dura mais.
As curvas certas
Mas há momentos em que os consumos estão no fim da lista de prioridades, sobretudo quando a estrada com as curvas certas aparece. A primeira sensação é de confiança, a suspensão revela competência, apesar de alguma rigidez a lidar com irregularidades mais pronunciadas, mas não me inibe de atacar as primeiras curvas com optimismo. O travão dianteiro podia ser mais potente, mas a travagem global é boa e a introdução do ABS nesta edição de 2016 é bem vinda.
A única coisa que limita o entusiasmo com as curvas é a facilidade com que os pousa-pés tocam no alcatrão – uma das particularidades da Judge é a sua colocação mais ao centro -, o que nos lembra rapidamente qual é o ritmo adequado nesta moto. Motor é que nunca falta, sendo particularmente apetecível acelerar forte, numa relação de caixa alta, e ouvir o som grave desde baixa rotação.
Quando o sol desaparece, a iluminação azul no anel do velocímetro analógico dá um ar da sua graça, com a informação adicional digital a poder ser comutada através de um botão ao alcance do indicador esquerdo.
A Victory Judge é uma moto cheia de pormenores, mas o melhor de todos é, sem dúvida, o motor Freedom V Twin.
Lista de tentações
Como se espera de uma moto como esta, existem vários acessórios para personalizar a Judge exactamente ao gosto de cada um.
O assento do passageiro, por exemplo, pode ter uma cobertura consoante o desejo de um look mais desportivo para viagens a solo ou a necessidade de viajar com companhia. Até porque, há quem diga que, muitas vezes, a felicidade parece não fazer sentido quando se não for partilhada.
A filosofia Lock & Ride permite montar e desmontar acessórios, em poucos minutos, sem ferramentas.
Na lista de possibilidades de personalização da Victory Judge existe também um escape desenvolvido pela Akrapovic. Além do contributo estético dos cromados, estes silenciadores oferecem uma poupança significativa de peso, cerca de 4 kg e um aumento de binário também na ordem dos 4 Nm.
O número de acessórios é interminável e a lista está dividida em mais de 25 categorias. Haja imaginação e desprendimento financeiro.
A pintura encarnada e preta é de série e é o principal elemento que identifica o modelo deste ano.
Ficha Técnica
1731 CC
90 cv
17,8 L
300 KG
TIPO 2 CIL. EM V, REFRIGERAÇÃO A AR/ÓLEO
DISTRIBUIÇÃO 8 VÁLVULAS
BINÁRIO 139 NM ÀS 2800 RPM
EMBRAIAGEM MULTIDISCO EM ÓLEO
CAIXA 6 VELOCIDADES
TRANSMISSÃO POR CORREIA
QUADRO TUBULAR EM AÇO
SUSPENSÃO DIANTEIRA FORQUILHA DE 43 MM, CURSO 130 MM
SUSPENSÃO TRASEIRA MONO-AMORTECEDOR, CURSO 75MM
TRAVÕES DISCO DIANTEIRO DE 300 MM + DISCO TRASEIRO DE 300 MM COM ABS
RODAS 130/90 R16’’ + 140/90 R16’’
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1647 MM
ALTURA DO ASSENTO 658 MM
Texto: Luís Guilherme