Ensaio Aprilia Dorsoduro 900 de 2018 – Uma “Maximotard” de bom temperamento
A designação “Dorsoduro” que a Aprilia escolheu para o seu modelo faz-nos imediatamente pensar numa moto de temperamento indomável, rebelde e algo perigosa, que nos desafia o tempo todo pelo seu comportamento agressivo. Essa era a perspectiva que carregávamos connosco quando nos deslocámos à Oficcina Moto, em Marvila, espaço brilhantemente decorado, onde Aprilias, Guzzis e Vespas nos transportam para uma outra dimensão, carregada de nostalgia e história das motos italianas.
Após um rápido briefing sobre algumas das suas “funcionalidades” arrancamos para o primeiro contacto com a belíssima Dorsoduro. O seu estilo e estética mantêm-se práticamente inalterados desde que a Aprilia lançou a Dorsoduro em 2007, estética que na nossa opinião é realmente um atributo de personalidade marcante deste modelo e que a Aprilia soube manter durante uma década, apenas com pequenos toques subliminares .
Primeiro contacto
A primeira sensação quando arrancamos é de controle total e ao contrário do que esperávamos a Dorsoduro revela-nos uma enorme progressividade e suavidade na sua condução, com um binário extraordinário a baixa e média rotação que tornam a experiência de enfrentar o transito urbano num verdadeiro prazer.
A posição de condução não é demasiado agressiva, nem chegada à frente como numa verdadeira “supermotard”, mais bem confortável e natural, onde o banco nos pareceu também bastante ergonómico e estreito na frente, a permitir inclusivamente chegar com os pés ao chão com facilidade. O fluir pelo meio do transito era facilitado pela posição alta dos punhos que permitiam passar por cima dos retrovisores dos automóveis e foi com enorme agilidade e rapidez que cruzámos a cidade de Lisboa de uma ponta à outra.
A leitura do painel TFT de informação era perfeita, com enorme contraste e com toda a informação disponível ao toque de um botão no punho esquerdo. Apenas sentimos falta do indicador de nível de combustível que, inexplicavelmente, a Aprilia não inclui.
O novo Motor é a alma da Dorsoduro
Em relação ao modelo anterior da Dorsoduro a nova versão 900 de 2018 inclui agora um motor bicilíndrico de 891cc com cerca de 95CV de potência e Ride by Wire, o mesmo da RV4, com 3 modos de motor, Sport, Touring e Rain. O novo motor 900 tem como principal atributo o forte binário que desenvolve nas baixas e médias rotações, proporcionando uma aceleração vigorosa mas progressiva, transmitindo uma enorme sensação de segurança e controle.
Um motor que nos agradou muito no seu desempenho, redondo e com potência sempre disponível desde baixas rotações e que contribui definitivamente para a agradável sensação de facilidade e conforto na sua pilotagem.
Usámos quase sempre o modo Touring em cidade e passámos depois para Sport a partir do momento que nos sentimos familiarizados com a Dorsoduro. Em auto-estrada e em velocidades superiores a 150 Kmh a proteção é relativa e aos 180 Kmh sentimos a direção a ficar algo “solta” o que nos fez pensar que um amortecedor de direção talvez pudesse resolver este problema. A Dorsoduro passa os 200 Kmh com facilidade, mas digamos que rodar a essa velocidade não será a sua “praia”, até porque é proibído.
Gostámos do tacto da embraiagem e da precisão da caixa de velocidades, que é no entanto algo dura e encontrar às vezes o ponto morto requer alguma sensibilidade e habituação. O acelerador com sistema Ride-by-wire pareceu-nos algo impreciso em algumas fases da aceleração, sobretudo a um nível de rotação mais baixo em modo Rain.
Os travões estão ao nível do desempenho da Dorsoduro, com uma mordida forte e precisa, controlável a permitir travar vigorosamente sem grande intrusão do ABS que pode ser inclusivamente desligado. O controle de tração inclui também 3 níveis diferentes, de resto a electrónica é algo básica no entanto suficiente para o tipo de moto e condução que proporciona a Dorsoduro.
As suspensões semi-ajustáveis da Dorsoduro são também outro dos seus pontos fortes, e inclui suspensões Kayaba invertidas de 41mm na dianteira e amortecedor Sachs na traseira, ambas reguláveis em tudo menos no hidraulico em compressão. Se considerarmos as irregularidades e o mau piso que habitualmente nos proporcionam as estradas portuguesas, as suspensões da Dorsoduro parecem ter sido directamente pensadas para as mesmas, proporcionando uma leitura perfeita e uma superação irrepreensível de todo tipo de imperfeições. Julgo até que algo brandas no seu setup original e certamente a necessitarem algum ajuste no amortecedor traseiro para uma pilotagem mais agressiva. No entanto para o dia a dia um compromisso que contemple dotar a Dorsoduro de maior conforto é sempre bem vindo, realidade que neste caso foi um dos atributos que mais nos surpreendeu.
A condução da Dorsoduro é entusiasmante, constantemente a passar-nos uma agradável sensação de liberdade, sensação que normalmente se sente no todo-o terreno. A condução, pouco a pouco, começa a parecer-se à de um misto de “enduro urbano”, onde todos os obstáculos são superados com enorme facilidade, combinando com uma postura às vezes mais desportiva no asfalto, onde o atrativo é o de podermos atacar as curvas como se de uma R se tratasse.
A Dorsoduro não é, na nossa perspectiva, uma “supermotard” pura, embora invoque obviamente o estilo, e situa-se talvez mais entre uma Hypermotard 939 da Ducati e uma MT-09 da Yamaha ou mesmo uma Z900 da Kawasaki.
O trabalho desenvolvido pelos engenheiros da Reparto Corse da Aprilia no bicilíndrico da Dorsoduro é de facto de assinalar pois conseguiram domar a habitual potência bruta de um motor de 2 cilindros a 90º e dotá-lo de uma enorme progressividade que, com a introdução da nova electrónica, transformam por completo o comportamento e a pilotagem da Dorsoduro 900.
A capacidade de apenas 12 litros do depósito de combustível poderá no entanto limitar o regime da sua utilização e autonomia já que o consumo se situa entre os 6 e os 7 litros de gasolina aos 100. De qualquer forma as paragens de 200 em 200 Kms serão certamente bem vindas e uma oportunidade para relaxar e apreciar a paisagem, sempre que entendermos realizar viagens de fim de semana com a Dorsoduro. Pela sua facilidade de condução, agilidade e sensações proporcionadas pelo seu fantástico motor, a Dorsoduro é sobretudo uma princesa urbana com ciclística capaz de se bater com as melhores desportivas em percursos sinuosos de serra… os habitués do Cabo da Roca ao domingo que o digam.
A Aprilia Dorsoduro 900 face às suas concorrentes italianas, quer da Ducati quer da MV Agusta, tanto pelas suas características e desempenho como pelo seu preço base, é uma opção muito séria a considerar.
Ficha Técnica Aprilia Dorsoduro 900
Motor Bicilíndrico em V a 90º, com refrigeração líquida, 4 válvulas por cilindro, à cabeça, Acelerador Ride By Wire e 3 modos de motor (Sport, Touring e Rain).
Cilindrada 896,1 cc
Potência máxima 95,2 / 70 CV às 8750 rpm
Binário máximo 90Nm às 6.500 rpm
Taxa Compressão 11:1
Ignição Electrónica Digital
Lubrificação Cárter humido
Escape 2 em 1 com 2 ponteiras
Caixa 6 velocidades
Embraiagem Multidisco em banho de óleo acionamento hidraulico
Transmissão 38/71 por corrente
Quadro Em treliça de tubos de aço
Susp. Dianteira Forquilha Invertida de 41mm regulável em extensão
e pré-carga das molas. Curso de 160mm
Susp. Traseira Braço oscilante em liga de alumínio e amortecedor hidraulico regulável em extensão e pré-carga da mola. Curso de 160mm
Travão dianteiro Disco flutuante com 320mm de diâmetro. Pinça Brembo radial com 4 êmbolos. ABS de 2 canais
Travão traseiro Disco de 240mm de diâmetro. Pinça um êmbolo. ABS de 2 canais
Roda dianteira 3,50 X 17″ e
Pneu dianteiro 120/70 – 17
Roda traseira 6,00 X 17″
Pneu traseiro 180/55 – 17
Depósito 12 Litros
Peso n.d.
Dimensões
Comprimento 2.185 mm
Dist. entre eixos 1.515 mm
Altura max. 1.185 mm
Altura banco 870 mm
Avanço 108 mm
Angulo de direção 26°
PVP Base 10.455 euros
Concorrência
Ducati Hypermotard 939 / 937cc / 114 CV / 204 Kg / 12.895 euros
MV Agusta Rivale 800 / 798 cc / 125 CV / 178 Kg / 13.490 eur
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