MotoGP – Rivalidades: Quando as coisas aquecem – 1ª Parte

Por a 23 Julho 2016 11:20

O intenso duelo entre Valentino Rossi e Marc Márquez no MotoGP foi só mais um episódio numa longa lista de rivalidades na sexagenária história do Mundial de Motociclismo. Nomes como Hailwood e Agostini, Rainey e Schwantz ou Rossi e Biaggi foram muito mais do que simples adversários em pista…

O pugilismo teve Muhammad Ali e Joe Frazier. O basquetebol teve Magic Johnson e Larry Bird. A Fórmula 1 teve Alain Prost e Ayrton Senna. Os ralis tiveram Sébastien Loeb e Sébastien Ogier. Toda a história do desporto mundial está polvilhada de rivalidades intensas, embates de estilos e personalidades que superaram os limites humanos na presença de um adversário de igual talento e determinação. Esta dicotomia torna competições como o Mundial de Motociclismo numa espécie de romance literário, alimentado de tempos a tempos pela inimizade entre duas personagens de fações opostas. Aquilo que Valentino Rossi e Marc Márquez protagonizaram em 2015 é só mais um capítulo nesta apaixonante telenovela seguida por milhões. Relembre com o AutoSport outros episódios de rivalidade visceral no mundo do motociclismo.

Mike Hailwood vs Giacomo Agostini

Mike Hailwood vs Giacomo Agostini

Esta talvez tenha sido a primeira grande rivalidade do Campeonato do Mundo de Motociclismo, ou pelo menos aquela que captou inicialmente a atenção do público que seguia a modalidade. Um britânico e um italiano, duas personalidades diferentes mas cujas histórias de vida partilhavam alguns pontos de contacto até ambos se encontrarem na MV Agusta em 1965.

Mike ‘The Bike’ foi a primeira verdadeira superstar do motociclismo, um predestinado vindo de uma família rica – o pai fez fortuna a vender motos na Grã-Bretanha – e que em miúdo aprendeu a pilotar num terreno de 30 mil metros quadrados onde desgastou uma oval das constantes voltas que fazia aos domingos a seguir à missa. Um fenómeno que teve sempre as melhores motos que o dinheiro podia comprar… mas que as levava ao limite com o à-vontade dos predestinados.

Dois anos mais novo, Agostini também vinha de uma família abastada – o pai era um rico industrial de Bergamo – mas o jovem italiano teve primeiro de convencer o difícil conde Agusta – num episódio tipo ‘O Padrinho’ – a dar-lhe uma oportunidade em 1965 como companheiro de Hailwood. O britânico tinha sido campeão pela primeira vez nas 250cc em 1961, com um pequena firma japonesa chamada… Honda. Seguiram-se mais quatro títulos na classe-rainha, das 500cc, com a MV Agusta, o último dos quais em 1965 já com o jovem ‘Ago’ como companheiro de equipa. O italiano terminou seis corridas no segundo lugar logo atrás de Hailwood, estudando o seu futuro rival. No final do ano, Hailwood deixou a marca italiana cansado do feitio do conde Agusta e acusando-o de preferir o jovem Agostini. À espera de Mike ‘The Bike’ estava Soichiro Honda, que queria a todo o custo acabar com o domínio da MV Agusta no Mundial. Foi aí que a rivalidade de Agostini e Hailwood (assim como da MV Agusta e Honda) atingiu o seu apogeu, alastrando inclusive ao lendário TT da Ilha de Man. O britânico e a Honda ainda tiveram o ‘gostinho’ de bater os italianos no Mundial de 350cc por duas vezes, mas o binómio Agostini-MV Agusta já estava no seu auge na classe-rainha, onde Agostini seria campeão sete anos consecutivos. Hailwood retirou-se do Mundial muito antes, em 1967, mas a rivalidade entre os populares ‘The Bike’ e ‘Ago’ povoou o imaginário dos adeptos e da imprensa.

Barry Sheene vs Kenny Roberts

Barry Sheene vs Kenny Roberts

‘Bazza’ e ‘King Kenny’. Depois de Hailwood e Agostini, a história repetia-se: um era a estrela reinante, a figura irreverente idolatrada por milhões; o outro era o aspirante talentoso, focado unicamente em bater o campeão em título. Quando Kenny Roberts atravessou o Atlântico vindo de uma carreira impressionante nas dirt tracks americanas, Barry Sheene era uma espécie de ‘Valentino Rossi dos anos 70’. O britânico tinha sido campeão do Mundo de 500cc por duas vezes com a Suzuki mas era o seu estilo irreverente, dentro e fora de pista, que o tornava numa lenda do motociclismo. Não era raro ver Sheene a fumar um cigarro na grelha de partida através de um orifício furado no capacete (!). Ainda mais frequente era ver o inglês rodeado de mulheres bonitas e com um sorriso de playboy.

Roberts era o completo oposto. O rude (e determinado) californiano vivia e respirava corridas. O estilo de vida – e de pilotagem – de ‘Bazza’ eram uma afronta para a personalidade introvertida de Roberts, que só admitia um único resultado na sua carreira nos Grandes Prémios: chegar a campeão do Mundo. Algo que King Kenny conseguiu logo na sua primeira época na classe-rainha, em 1978, um feito que só Marc Márquez conseguiu repetir 35 anos depois.

Quando Roberts começou a bater o campeão Sheene na primeira metade de 1978, o inglês começou a perder a paciência com o novato vindo dos States. E a rivalidade escalou até ao famoso GP da Grã-Bretanha de 1979, em Silverstone, quando Sheene ultrapassou Roberts e levantou o dedo do meio para o seu adversário… que o passou logo a seguir. Certo dia, o americano disse que “eu só me levanto da cama de manhã para bater o Barry Sheene”. O inglês respondeu à imprensa quando esta lhe perguntou o que achava de Roberts como piloto de desenvolvimento. “Ele nem consegue desenvolver uma gripe”, afirmou Bazza. O ambiente entre ambos desanuviou-se quando ambos se retiraram e Roberts reconheceu a importância da rivalidade de Sheene quando este morreu de cancro, em 2003.

Kenny Roberts vs Freddie Spencerfreddie-spencer-kenny-roberts-moto-honda-yamaha-982b2e-0@1x

Depois de Barry Sheene, ‘King Kenny’ Roberts teria um outro adversário de peso no Mundial de 500cc: Freddie Spencer. ‘Fast Freddie’ era um talento precoce do motociclismo: depois de mentir sobre a sua idade para poder correr (“Era suposto termos 16 anos. Eu tive 16 anos durante três anos seguidos”, brincou), venceu o campeonato norte-americano de 250cc na frente de Eddie Lawson e aos 18 anos bateu os campeões de 500cc Barry Sheene e Kenny Roberts no Desafio Transatlântico, antes de ganhar o seu primeiro GP aos 20 anos.

Por outro lado, em 1983 Roberts já era o ‘Rei’ após três títulos com a Yamaha e anunciando que essa seria a sua última época no Mundial mas longe de pensar noutra coisa que não fosse numa saída em grande. Só que ‘Fast Freddie’ começou o ano muito forte, com a ágil Honda NS500 de três cilindros, vencendo cinco das sete primeiras corridas. Consistente como sempre, Roberts recuperou e venceu três GP seguidos colocando pressão sobre o seu jovem compatriota. O pico da emoção aconteceu no célebre GP da Suécia de 1983, na pista de Anderstorp. Roberts e Spencer trocaram de posições durante toda a corrida mas o piloto da Yamaha parecia ter a vitória assegurada… até à última curva. Numa manobra desesperada, Spencer mergulhou a sua Honda no interior da curva mas não tinha espaço suficiente para travar e saiu para a gravilha obrigando Roberts a fazer o mesmo. Spencer foi mais rápido a regressar ao asfalto e acabou por ganhar a corrida, com Roberts em segundo e a perder o Mundial no final do ano por… dois pontos.

Texto: Ricardo S. Araújo

 


“As rivalidades do Motociclismo e os seus Protagonistas”


Giacomo Agostini: Entre 1968 e 1971 disputaram-se 69 Grandes Prémios do Mundial de Motociclismo nas classes de 500cc e 350cc. Essas 69 corridas consecutivas tiveram apenas um vencedor: Giacomo Agostini. Este é, porventura, um dos recordes mais impressionantes da história do Mundial, mesmo se é preciso contextualizá-lo com a esmagadora supremacia das MV Agusta de então, e com o facto de Agostini ter ficado sem o seu maior rival no final de 1967: Mike Hailwood.

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Mike Hailwood: Em 1959, conquistou o primeiro dos seus 76 Grandes Prémios e, em 1961, o primeiro dos seus nove títulos de Campeão do Mundo, sendo o primeiro piloto a obter quatro títulos consecutivos nas 500cc. Piloto oficial da Honda em 1961, assinou com a MV Agusta no ano seguinte. Mas regressou à casa japonesa quatro anos depois, conquistando aí os seus últimos quatro títulos.

Hailwood

Barry Sheene: uma das lendas do campeonato do Mundo de Motociclismo, faleceu aos 52 anos, vítima de doença prolongada.

Sheene foi campeão do Mundo de 500cc em 1976 e 1977, aos comandos de uma Suzuki, tendo obtido 23 vitórias no “Mundial” ao longo de 14 anos de carreira, em que foi piloto oficial da Suzuki, Yamaha, Bultaco e Derbi.

Barry Sheene

Kenny Roberts:  Não é à toa que chamam a Kenny Roberts o ‘Rei’. A vida do primeiro campeão mundial vindo dos States foi uma incrível sucessão de êxitos.Os numerosos títulos nas dirt tracks e pistas de asfalto americanas, os três campeonatos mundiais de 500cc, o sucesso obtido enquanto Team Manager da Yamaha, até o inédito título mundial do herdeiro Kenny Jr. (único caso de um pai e filho campeões do mundo) são testamentos para a posteridade de uma das maiores figuras do motociclismo.

Roberts

Freddie Spencer:  A ascenção e queda de Freddie Spencer é uma das histórias mais fascinantes do Mundial de Motociclismo. De prodígio a estrela cadente em apenas quatro anos.“Spencer era como um relógio caro feito à mão: perfeito mas frágil”. Foi esta a descrição do jornalista inglês David Emmett quando lhe falámos sobre Freddie Spencer, o maior prodígio do Mundial de Motociclismo na década de 1980. O americano foi ao mesmo tempo um fenómeno e um mistério. Venceu a primeira corrida de 500cc aos 20 anos, aos 21 tornou-se o mais jovem Campeão do Mundo de sempre… e quando tinha apenas 23 anos ganhou o seu último GP. Porquê? A resposta, ou a falta dela, é o que torna a história tão singular.

Spencer

 

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