Obituário: Recordando Murray Walker

Por a 16 Março 2021 12:59

Como nunca poderia esquecer os breves momentos que partilhei com o agora desaparecido comentador que era a voz da Formula 1 em Inglês

“Esta teria sido a terceira vitória consecutiva de Senna, se tivesse vencido as duas anteriores”... Esta e outras gafes de igual teor ajudaram a tornar famoso o carismático Murray Walker, que tive a oportunidade de conhecer a última vez que estive no Grande Prémio de Macau em 1993 e agora faleceu com 97 anos.

Muito gozado por tais tiradas, a verdade é que por trás delas poucos se preparavam tão cuidadosamente e profissionalmente para o seu trabalho, nem tinham um conhecimento tão enciclopédico da modalidade.

A voz de Murray Walker deu a todos uma ideia da verdadeira emoção da Fórmula 1 entre 1976 e 1997, e posteriormente a tempo parcial em 2005, com aparições na BBC, Channel 4 e Sky Sports.

Nessa altura, apesar das longas pistas suspensas reclamadas ao mar já estarem em avançado estado de construção ao longo da reta de Macau, ainda se voava de Hong Kong, após uma rápida travessia do Mar da China em Jetfoil, e no longo voo que se seguia para Londres calhou no lugar ao meu lado esta figura inconfundível: Murray Walker, comentador, personalidade famosa do meio, uma voz tão intimamente ligada à Formula 1 automóvel para qualquer pessoa da língua inglesa, como Amália ao fado para qualquer português.

Inevitavelmente, começámos a falar do universo das duas e quatro rodas e foi a minha vez de ficar surpreendido… É que Murray, conhecido do grande público como comentador da Formula 1, e intimamente ligado às quatro rodas, era na verdade tão apaixonado pelas duas, um homem conhecido por competir em Trial e já filho do grande Graham Walker, piloto vencedor na Ilha de Man.

Um pouco mais de conversa e em breve descobrimos amigos comuns e muito tema de conversa, nomeadamente da sua geração, o pai de um bom amigo meu também piloto, era seu antigo rival e amigo de juventude.

Mais não foi preciso para recordar uma época de pilotos cavalheiros, saídas a Brands Hatch pela madrugada com o cheiro de Castrol R a misturar-se com o orvalho da manhã, aventuras no Todo-Terreno e todo um universo que de certo modo partilhamos.

Recordo, há alguns anos, pensar o que seria feito dele e pesquisar na internet por achar muito improvável que o veterano há algum tempo reformado ainda estivesse vivo e descobrir com prazer que estava, pois faleceu agora com 97 anos, não sem antes ter batido um cancro linfático que o afetara aos 89 anos…

A sua história já sobejamente conhecida de uma vida longa e produtiva chegou agora ao fim, e é agradável recordar que, por momentos, por algumas horas nesse regresso do extremo oriente, se cruzou com a minha!

Descanse em paz.

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