MotoGP, os atuais: Miguel Oliveira, para a história
Falar da carreira e vida de Miguel Oliveira teria de ser sempre uma ocasião especial, pelo que deixámos o piloto destacado para o final da nossa revista de todo o plantel da MotoGP.
Miguel Ângelo Falcão de Oliveira nasceu a 4 de Janeiro de 1995 na freguesia do Pragal, em Almada, e é o primeiro piloto português a competir a tempo inteiro no Mundial, a conquistar pódios e vitórias em Grandes Prémios, e finalmente, a ascender à MotoGP.
O pai Paulo Oliveira, um ex-piloto do Nacional de Velocidade, sempre apoiou o amor do filho pelas corridas e deu-lhe a sua primeira moto quatro quando tinha quatro anos. Miguel começou a correr no campeonato nacional aos nove anos, desde logo apoiado por entidades como a FMP e o Motor Clube do Estoril, que cedo viram o seu talento, e seguiu para o Campeonato de Portugal de MiniGP em 2004, ganhando o prémio de Revelação do Ano atribuído pela Confederação do Desporto de Portugal.
Os seus primeiros sucessos ocorreram em 2005, quando venceu o Campeonato de Portugal de MiniGP e o Metrakit World Festival, em Espanha. Em 2006 repetiu o seu sucesso anterior e ganhou todas as corridas do Campeonato Andaluz, embora como estrangeiro não pontuasse, e em 2007 ganhou o Troféu Mediterrânico de 125. Em 2009 foi terceiro no campeonato espanhol e, em 2010, bateu-se com Maverick Viñales pelo título, acabando por ganhar mais corridas, mas terminar em segundo lugar por apenas dois pontos após uma desclassificação “estratégica” de “nuestros hermanos” e progrediu para se tornar o primeiro piloto português a chegar ao campeonato do mundo.
2011 foi a primeira temporada de Oliveira nos Grandes Prémios, no Campeonato de 125cc com a equipa Andalusia-Cajasol. A moto era uma Aprilia e o seu melhor resultado foi o 7º lugar na prova em casa, do Estoril, depois de ter terminado em 10º lugar na sua estreia no Qatar. Alcançou seis top 10 na sua primeira temporada, mas não competiu nas últimas corridas depois de a equipa não ter conseguido o apoio financeiro para terminar a temporada. Ironicamente, com o desaparecimento do GP de Portugal a seguir teríamos pela primeira vez piloto, mas sem Grande Prémio de casa.
No entanto, Miguel ganhou vasta experiência em Moto3, tendo competido pela equipa da Estrella Galicia 0,0 em 2012, e depois pela Mahindra Racing em 2013 e 2014, passo que alguns descrevem como um erro de carreira motivado pelo dinheiro, em vista da pouca competitividade da marca, que Oliveira ajudou a projetar.
Oliveira mudou-se para a Moto3 com a equipa da Estrella Galicia 0,0 de Emílio Alzamora para 2012, tendo ajudado a desenvolver a nova Suter Honda de quatro tempos nas últimas rondas da temporada do CEV 2011e ganhando duas corridas no processo. Em 2012 até liderou algumas corridas antes de cair e conseguiu o seu primeiro pódio, um terceiro lugar, na Catalunha. Melhorou nesse resultado com um segundo lugar na Austrália, e terminou a temporada no oitavo lugar da classificação do campeonato. Como a equipa já tinha contrato com Álex Márquez para ser parceiro de Álex Rins em 2013, Oliveira deixou a equipa.
Apesar de ofertas das equipas Ajo Motorsport e Avintia Racing, Oliveira juntou-se à Mahindra Racing em 2013. Voltou a desenvolver uma nova mota da Suter, com um motor marcado como Mahindra – embora baseado na unidade Honda de 2012 – e conseguiu o primeiro pódio para a equipa indiana em Sepang, com um terceiro lugar. Alcançou também a pole position, oito top-5 e três voltas mais rápidas com a nova moto que era menos potente em comparação com a maquinaria KTM.
Em 2014 foi acompanhado por Arthur Sissis, que mais tarde foi substituído por Andrea Migno devido aos maus resultados, e obteve um pódio em Assen, com um terceiro lugar. Terminou a temporada como a melhor Mahindra no campeonato, em décimo lugar. Depois, iria juntar-se à equipa de Ajo com a KTM para 2015.
Depois de ingressar na KTM Ajo Red Bull, Miguel tornou-se o primeiro piloto português a vencer um Grande Prémio em MotoGP com uma vitória histórica nas Moto3 em Mugello. Depois de ter feito a segunda vitória em três corridas, em Assen, mostrando as suas qualidade de jogar corridas inteligentes e assustador talento nas travagens, Oliveira sofreu uma forte queda durante a primeira sessão de treinos livres do Grande Prémio da Alemanha a seguir, que o obrigou a desistir da corrida devido a um metacarpo partido e ter deslocado a mão esquerda.
Regressado da lesão em Indianápolis, mas ainda combalido, o seu melhor resultado nas três corridas seguintes foi um oitavo lugar em Brno. Com apenas seis corridas restantes na temporada, Oliveira seguia o líder do campeonato, Danny Kent, por 110 pontos.
Oliveira terminou em segundo em Misano, antes de vencer em Aragón. Também recuperou 35 pontos a Kent nas duas corridas. Outros 35 pontos foram recuperados a Kent, que começou a jogar pelo seguro, embora tivesse uma Honda visivelmente mais rápida que a KTM de Oliveira, enquanto Oliveira continuou a sua série de dois primeiros lugares com o segundo lugar no Japão, e uma vitória em Phillip Island. A vitória também impediu Kent de conquistar o título por antecipação, e Oliveira ficou a seguir a Kent por 40 pontos com 50 pontos disponíveis nas duas últimas corridas, o único piloto que conseguia apanhar Kent na classificação. Oliveira voltou a vencer na Malásia, e com Kent a terminar em sétimo, Oliveira manteve a corrida pelo título viva rumo à última ronda em Valencia, mas 24 pontos atrás, com 25 pontos disponíveis, ou seja, Kent teria de não pontuar e Oliveira vencer para ganhar pontuação máxima. Oliveira fez tudo o que podia para tentar conquistar o título e venceu a corrida, mas com um apagado Kent a terminar em nono, e mesmo assim após uma colisão de três pilotos na última curva, sem o que teria ficado fora do Top 10, Oliveira ficou a seis pontos de distância, como vice-Campeão.
No dia 13 de Setembro de 2015, foi anunciado que Oliveira iria subir à classe Moto2 para a temporada de 2016, com a Leopard Racing. Ironicamente, foi acompanhado na equipa pelo seu rival do campeonato de Moto3, Danny Kent. Oliveira conseguiu três resultados do Top 10 com um 9º lugar em Le Mans, 8º lugar na Catalunha e outro 9º lugar em Brno antes de quebrar a clavícula após uma colisão com Franco Morbidelli durante os treinos para o Grande Prémio de Aragón.
Morbidelli foi mais tarde penalizado pela queda, mas quem falhou a corrida foi Oliveira. Regressou para o Grande Prémio do Japão e foi inicialmente declarado apto pela equipa médica, mas acabou por não iniciar a corrida depois de avaliar a sua condição durante os treinos livres e estar combalido demais perante as constantes travagens violentas no traçado. Em consulta com a equipa, foi mais tarde decidido que Oliveira também não iria alinhar nas seguintes corridas em Phillip Island e Sepang, onde foi substituído por Alessandro Nocco.
Antes da queda de Aragón, Oliveira liderava confortavelmente a classificação de Rookie of the Year ao longo da temporada e ficou atrás por apenas um ponto, depois de ter perdido quatro corridas e regressado só para a última corrida do ano em Valencia. Terminou a prova num louvável 13º lugar, mas ficou aquém de conquistar o troféu por um ponto, com o eventual rookie do ano Xavi Vierge a terminar logo à sua frente no 12.º lugar.
Para a temporada de 2017, Oliveira regressaria orrida em Valea a KTM nestê-lo, a as constantes travagens violentas no traçadoortugal a seguir terºà KTM, na equipa de Moto2 da Red Bull Ajo, com a KTM a estrear-se na classe Moto2. No seu regresso à Equipa Ajo, encontrou-se em parceria com o seu antigo colega de equipa de Moto3, Brad Binder. Em 22 de Outubro desse ano, alcançou a sua primeira vitória no Moto 2 e ao fazê-lo, a primeira de sempre para a KTM na classe. Oliveira também venceu a corrida seguinte na Malásia e fechou o Moto2 de 2017 com três consecutivas, vencendo a última corrida em Valencia.
Ainda em 2017, Miguel Oliveira iniciou um projeto pedagógico pioneiro em Portugal, a Oliveira Cup. Este Troféu escola de motociclismo, sob a sua orientação e dirigido sabiamente pelo pai Paulo, era direcionado a jovens dos 10 aos 14 anos, e pretendia encontrar o seu “sucessor”, formando uma nova geração de jovens pilotos. Inscreveu 12 jovens pilotos para o primeiro ano e mais ainda para a segunda temporada, em 2018, antes de fazer uma pausa o ano passado. Ao mesmo tempo, Miguel Oliveira apoiou alguns jovens talentos vindos da Oliveira Cup para entrar no Campeonato Nacional de Velocidade, sob a marca do Miguel Oliveira Fan Club.
Em 2018, manteve-se na equipa Aki Ajo por mais uma temporada, onde aos comandos da KTM Moto2 assinou três vitórias, dois quintos lugares e quatro terceiros lugares num total de 12 presenças no pódio. No entanto, a KTM estava menos competitiva em Moto2, sendo desafiada pelas Kalex da VR46 de Bagnaia e Marini, embora Miguel tenha demostrado incrível regularidade, sendo o único piloto na classe que não sofreu quedas em corrida ao longo do ano, (e mesmo assim, só uma em treinos quando foi abalroado por Iker Lecuona!) fechando mais uma brilhante temporada no segundo posto do campeonato com 297 pontos somados, outro vice-Campeonato, um por cada uma das classes em que participara até então…
Por esta altura, Miguel tornara-se o atleta português individual mais mediatizado, e no início de 2018, foi eleito Desportista do Ano, na categoria de Atleta Masculino, pela Confederação do Desporto de Portugal, assim como nomeado Embaixador Global da Integridade e Transparência no Desporto pela Sport Integrity Global Alliance (SIGA).
Em Jerez de La Frontera, logo no mês de Março, foi anunciado que assinara o contrato que o levava ao escalão maior do motociclismo mundial, o MotoGP, tornando-se no primeiro português a alcançar esse patamar desportivo, montando para a nova equipa satélite da KTM, a Tech 3 de Hervé Poncharal.
No ano passado em 2019, cumpriu a sua primeira época como piloto do campeonato do mundo de MotoGP mantendo a sua ligação com a KTM ao integrar a nova estrutura satélite do construtor austríaco com os Franceses da Tech3 de Hervé Poncharal. Numa época sempre em crescendo, em que Miguel estabelecer os objetivos prudentemente como apenas pontuar, consegue pelo contrário rodar consistentemente perto do Top 10, obtendo como melhor resultado um fantástico oitavo posto no circuito austríaco do Red Bull Ring, ainda por cima na prova de casa da marca KTM.
Porém, a seguir, viria o azar: abalroado incompreensivelmente por um Johann Zarco em decadência em em Silverstone, Miguel contraiu uma lesão no ombro que o deixa em baixo de forma o resto da época, e viria impor mesmo uma intervenção cirúrgica no final da época, que acabou em 17º com 33 pontos.
Miguel foi também preterido para a equipa oficial pelo seu ex-colega de equipa Brad Binder, mas isso pode não ser uma desvantagem, com a Tech 3 a receber motos iguais às da fábrica e a reunir uma equipa técnica tão experiente, senão mesmo mais, do que a oficial, com o grande Guy Coulon ao lado de Miguel como técnico-chefe.
As boas notícias são que, nos treinos pré-época, após ter sido recebido no final de 2019 pelo Presidente da República, no encerramento do programa ‘Desportistas no Palácio de Belém’, Miguel e todos os pilotos KTM concordaram que a nova Rc16 desenvolvida para 2020 estava muito melhorada, corrigindo, pelo menos parcialmente, as falhas de um chassis difícil de afinar combinado com um motor feroz… 2020 pode ainda vir a ser o ano da KTM, e Oliveira poderá ser um dos protagonistas!