MotoGP, história: Leslie Graham, o primeiro
A reivindicação de Leslie Graham à fama é simples e única. Ele foi o primeiro Campeão Mundial de 500 em 1949, quando o Campeonato de estruturou pela primeira vez.
Cabe aqui uma explicação: Claro que já tinha havido Campeonatos antes, mas só depois da II Guerra Mundial se estruturaram como os conhecemos hoje. Até lá, o “Mundial” podia ser uma série de corridas ao longo de uma semana, por exemplo, na Ilha de Man, em Imola ou em Monza, e tinham mais um cariz de Europeu, com apenas uma mão-cheia de Australianos ou Sul-Africanos a matizar um plantel de resto todo Europeu. Mas regressemos a Les Graham.
Robert Leslie (Les) Graham DFC nasceu a 14 de Setembro de 1911 em Wallasey, Inglaterra e começou por competir nas décadas de 1930 e 1940.
Les Graham começou a correr na Stanley Speedway de Liverpool em terra. Em 1929 entrou numa corrida no circuito Oswestry Park Hall, montando uma Dot-JAP em segunda mão, e ficou em segundo lugar atrás de Henry Pinnington numa AJS. Durante os anos seguintes correu uma sucessão de híbridos da Rudge com variados sucessos.
Em 1936 conseguiu comprar um OK-Supreme 250 de distribuição à cabeça barata, porque tinha batido uma válvula. Les reconstruiu-a e entrou no Grande Prémio do Ulster de 1936. Depois de completar uma volta do Circuito de Clady, a biela gripou. Reconstruiu-a de novo e em 1937, entrou no Northwest 200, e liderou a categoria Lightweight por um tempo até cair. Voltou a montar, entrou em campo, e chegou ao terceiro lugar atrás de um par de Excelsiors, quando o trem de válvulas se partiu. Mais uma vez, reconstruiu o motor e ganhou a sua próxima corrida em Donington Park. A seguir, entrou no Grande Prémio do Ulster e ficou em quarto lugar.
Depois disso, foi abordado por John Humphries (filho do fundador da OK-Supreme) para se juntar à empresa, e foi-lhe dado um emprego a montar os motores OHC. A OK-Supreme produziu motos de pista com motores JAP.
Les Graham, juntamente com os seus colegas Andy McKay e John Humphries logo se tornaram conhecidos como o trio de pilotos OK-JAP das Midlands. No verão de 1938 correram no Campeonato do Sudeste na “mountain mile” da Quinta Layhams e Les levou o Troféu Matchless de 20 voltas, estabelecendo um recorde no processo, apesar de nunca ter competido naquela pista antes.
Mais adiante, ficou em 12º lugar no TT da Ilha de Man na classe Lightweight em 1938, sempre numa OK-Supreme. Em 1939, com a guerra a aproximar-se, entrou no Ilha de Man montando uma Rudge Chris Tattersal St. Annes (CTS), e ficou em quarto lugar até à penúltima volta, quando a caixa de velocidades quebrou. Jock West estava a assistir à corrida, e inscreveu Les para montar uma Velocette em 1940, mas a Guerra interveio, e parou tudo.
Durante a Segunda Guerra Mundial Graham serviu como piloto na RAF. Foi colocado no Esquadrão 166 a partir de 1940, pilotando bombardeiros Lancaster sobre a Alemanha. Alcançou o posto de Tenente de Voo e foi condecorado com a Cruz de Distinção em Dezembro de 1944 por bravura. Depois, voou com o Comando de Transportes, até ser desmobilizado em 1946. Então, teve um convite do Comandante J.M. (“Jock”) West, OBE, para se juntar ao Deptº de vendas e competição na Associated Motorcycles (AMC).
Leslie voltou a correr no final da década de 1940, quando as corridas recomeçaram, como membro da equipa de fábrica da AJS. Competiu em privado no primeiro encontro em Cadwell Park do pós-guerra, numa Norton 350, e ganhou.
Em 1947, numa AJS Porcupine, conseguiu o 9º lugar no Sénior na Ilha de Man e em 1948, conseguiu um sétimo no Júnior, mas não terminou no Sénior. Nesse ano, em Montlhery, Jock West, Les Graham e o francês Georges Monneret bateram 18 recordes mundiais de velocidade entre os 207 e os 200 km/h.
Os Mundiais de Motociclismo, como vimos, foram realizados pela primeira vez em 1949, um ano antes do início do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 de quatro rodas. Les foi o primeiro vencedor da prestigiada classe de 500 cc, montando uma AJS Porcupine.
O Campeonato começou na Ilha de Man com Graham a liderar por 90 segundos na 1ª ronda, o TT de 1949. A apenas alguns quilómetros do fim, o veio do magneto separou-se e Les acabou a empurrar a moto para terminar em 9º. A seguir, venceu a 2.ª ronda em Bremgarten, na Suíça, e estabeleceu a volta mais rápida (as voltas mais rápidas no 1º ano contavam 1 ponto).
A 3ª ronda foi o TT holandês, em Assen, onde terminou em 2º lugar a seguir a Nello Pagani. Não conseguiu terminar a 4.ª ronda em Spa, na Bélgica, mais uma vez por avaria. A 5.ª ronda foi o Grande Prémio do Ulster, no qual foi vitorioso e conquistou a volta mais rápida.
A última ronda realizou-se em Monza, na Itália, onde o herói local Nello Pagani venceu numa Gilera. Na altura, como as viagens eram morosas e eram raros os que podiam fazer todas as provas, contavam os três melhores resultados de um piloto. Graham tinha duas vitórias e um segundo, Pagani tinha 2 vitórias e um terceiro, logo, Graham assumiu o título, apesar de a pontuação total de Pagani ter sido maior.
Em 1950, Graham ainda terminou em 3º lugar atrás do italiano Umberto Masetti (Gilera) e da nova estrela da Inglaterra e da Norton Geoff Duke. Ele também competiu no International Six Days Trial de 1950 realizado no País de Gales numa AJS 350. Em 1951, o Conde Domenico Agusta contatou Graham para ele pilotar para a MV Agusta.
Frustrado pela falta de desenvolvimento das AJS, juntou-se à equipa italiana para andar e desenvolver as suas máquinas de 500 cc de quatro cilindros. Graham não conseguiu marcar pontos para a MV na classe de 500 cc, pois embora as MVs fossem muito potentes, o comportamento não estava à altura , e as motos eram consideradas inguiáveis. A MV Agusta não competia na classe de 350 cc, por isso Graham montou uma Velocette MkVIII KTT 350 para competição, terminando em 6º lugar na classe e vencendo o Grande Prémio da Suíça. Também terminou em 8º lugar na classe de 125 cc em 1951.
Em 1952, Graham começou por ficar sem pontos na 1ª ronda na Suíça, foi 2º na Ilha de Man, embora uma mudança se tivesse partido, com a consequente perda de potência, que sem dúvida, lhe roubou uma vitória.
Reg Armstrong da Irlanda, montando uma Norton de fábrica, obteve a vitória, uma muito sortuda, pois a corrente de Armstrong quebrou-se na linha de chegada, com Les Graham a apenas 33 segundos de distância. Les também não conseguiu somar pontos no TT holandês ou no GP da Bélgica. Terminou em 4º lugar com a volta mais rápida em Solitude, na Alemanha. Sofreu mais uma sem acabar, mas com a volta mais rápida no Ulster (desta teve problemas com os seus pneus Dunlop).
Seguiu-se-lhe a primeira vitória de sempre de 500 cc da MV Agusta, mais a volta mais rápida diante de uma multidão italiana entusiasta em Monza e uma segunda vitória em Espanha. Terminou a temporada segundo atrás de Umberto Masetti, da Gilera, no campeonato. Na classe de 250 cc, terminou em 3º lugar usando máquinas Velocette e Benelli e ainda obteve o 4º lugar na classe de 125 cc para a MV Agusta.
Em 1953, Graham era o favorito da pré-temporada e favorito para ganhar o campeonato novamente. Infelizmente, não havia de ser. Na quinta-feira, finalmente ganhou uma corrida na Ilha de Man, ao dominar a classe Lightweight numa MV 125 cc. Porém, no Sénior de sexta-feira, perdeu o controlo da sua moto a alta velocidade, quando encetava a subida após Bray Hill, e foi morto instantaneamente.
Carlo Bandirola e o resto da equipa de corridas da MV retiraram-se do Campeonato nesse ano como sinal de respeito. Um abrigo comemorativo apelidado de Leslie Graham Memorial foi construído na estrada da montanha em Snaefell em 1955 em sua honra.