MotoGP: Pode a Ducati decidir o Mundial de 2022 no ‘escritório’?

Por a 8 Outubro 2022 12:27

Há um risco evidente de assistirmos a um jogo ‘menos claro’ no final do Campeonato do Mundo de MotoGP em 2022. Com 8 motos em pista (!) a Ducati está em clara vantagem sobre as demais construtores. Além disso, corre o rumor no paddock que há ‘pedidos da marca’ aos seus pilotos para deixarem o caminho livre a Pecco Bagania para o título. A confirmar-se isto nas próximas três corridas, o que fica ameaçado é a própria verdade desportiva.   

O campeonato do mundo de MotoGP chegou às últimas três corridas da temporada com um cenário de sonho. Fabio Quartararo, Pecco Bagnaia e Aleix Espargaró , três pilotos de três marcas diferentes, são nesta altura os principais candidatos ao título com apenas 2 pontos a separar o francês da Yamaha do italiano da Ducati. Aleix está a 20 pontos do campeão do mundo, e assim, perfeitamente em jogo para tentar levar a Aprilia ao primeiro título mundial na categoria rainha. O cenário é de sonho, tanto mais que Enea Bastianini (Gresini Ducati) e Jack Miller (Ducati Lenovo) ainda se mantêm na corrida para o título mundial.

No entanto, uma ameaça paira sobre essas últimas três corridas e o resultado pode tornar-se muito menos épico do que o esperado. Há o ‘fantasma’ da Ducati, com a sua  superioridade mecânica claramente à vista, correndo mesmo nos bastidores o rumor que desde Misano a marca – não a equipa! – está a forçar o apoio a Pecco Bagnaia. E há sinais evidente disso na Prima Pramac Ducati.

Johann Zarco deixou bem claro que não queria ultrapassar Pecco Bagnaia na Tailândia, e depois da corrida deixou claro em palavras. “Desde Misano a Ducati deu-nos a premissa para o fazer, desde que não lutemos pela vitória”.

Deve a Dorna limitar o número de motos por marca?

Será isso ético? Deve ser legal um piloto ‘recusar a vitória’ por ordens externas? Zarco e Bagnaia não são pilotos da mesma equipa , correm em estruturas diferentes, embora ambos sejam pagos pela Ducati. A Dorna deveria fazer algo para nos impedir de ver ‘pedidos de marca’ nas últimas corridas?

É até compreensível que um companheiro de equipa tente ajudar o que está ao seu lado na box, mas um construtor incentivar o favorecimento de determinado piloto – como é o caso da Ducati com Bagnaia – parece-nos discutivel. O problema com os ‘pedidos de marca’ é que nem todos podem usá-los.

Enquanto uma marca como a Aprilia só tem duas motos em pista e a Yamaha quatro motos, a Ducati corre com oito, e isso confere-lhe uma enorme vantagem na hora de somar pontos para o campeonato. Sabemos que isto não é novo, que já se passou na Fórmula 1 no seio da McLaren Honda com um título mundial perdido por Ayrton Senna para Alain Prost, mas sinceramente não gostariamos de ver isto a acontecer no MotoGP, afectando a sua própria credibilidade. Deveria a Dorna estabelecer um limite máximo de motos por marca no MotoGP?.

Cremos que esta seria uma das soluções para evitar uma intervenção maior das marca nos resultados, contribuíndo para um campeonato mais ‘limpo’, isento de tentações de monopólio  da parte dos fabricantes.  

Um bom exemplo de como as coisas devem acontecer sucedeu na corrida de Valência em 2006, quando Valentino Rossi chegou praticamente com o título no bolso, mas caiu nas primeiras voltas e perdeu o título para Nicky Hayden. O italiano tentou subir dos últimos lugares da classificação, mas só alcançou o décimo terceiro lugar. Nesse dia Colin Edwards e Carlos Checa, também pilotos da Yamaha , terminaram ligeiramente à frente de Rossi. O que teria acontecido se eles tivessem parado na pista para Rossi marcar mais alguns pontos? Bem, nada, porque Rossi só teria somado mais dois pontos, mas ele estava cinco atrás de Nicky Hayden.

Agora, imaginando que a Yamaha tinha oito motos na pista, e que sete, ou parte delas parariam ou entrariam nas boxes, para permitir que ‘Il Dottore’ somasse os últimos pontos ao seu campeonato mundial – isso teria resultado numa imagem indigna do MotoGP, vergonhosa. Felizmente, isso não aconteceu. Mas o risco existe na atualidade, e com as 8 motos da Ducati a ‘verdade desportiva’ pode muito bem ser atirada ao poço na presente temporada.

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Ricardo Ferreira
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