MotoGP: Estará o MotoGP a tornar-se demasiado perigoso?
O Grande Prémio da Catalunha destacou o risco que os pilotos correm no MotoGP : felizmente não houve infortúnio… Mas, devemos esperar que haja sempre sorte? E quando ela faltar?
Sigo o Campeonato do Mundo de MotoGP desde 1989, e não me lembro de uma temporada desde então com tantos pilotos lesionados, de braço ao peito, pernas engessadas e tantas idas aos hospitais. Enfim, o MotoGP parece ter perdido o rumo e tarda em reencontrar o caminho da instabilidade. Vamos ver se na ronda asiática que começa este fim-de-semana com o GP da India as coisas mudam
Foram introduzidas a corridas sprint de sábado no início da temporada e, mais do que nunca, os pilotos dão tudo o que podem (e não podem!) de sexta a sábado, correndo este ano bastante mais riscos desde que também as diferenças se agudizaram entre as motos europeias (Ducati, Aprilia e KTM) e as japonesas (Honda e Yamaha). A Honda tem sido a mais infeliz, tanto que chegou à primeira metade do mundial com praticamente todos os seus pilotos no ‘estaleiro’. Fala-se da chegada das concessões para reduzir a diferença para as rápidas Ducati mas tardam em chegar; no Mundial SBK chegaram bastante mais rápido e vão desfazendo as diferenças entre Alvaro Baustita e os seus pares… No MotoGP não!
A introdução dos sprint ao sábado e outras emendas a meio da temporada ao regulamento, tinham o intuito de trazer mais público aos Grande Prémios e satisfazer as transmissões, mas o plano da Dorna fracassou! A ideia de uma maior aposta no desenvolvimento aerodinâmico, proposta em primeira mão pela Ducati e depois pela Aprilia que foram buscar alguns dos melhores técnicos da Fórmula 1, aumentou ainda mais as diferenças e muitos pilotos queixam-se de ser sugados quando perseguem outros, de tal modo arriscam agora muito mais nos pontos de travagem, acabando mais vezes a sua prova na gravilha. Na presente temporada mudaram-se as regras do jogo a meio da temporada com o acesso à qualificação a ser feito à sexta-feira (inédito) , foi introduzida a Volta Longa (Long Lap) e imagine-se, já se pondera a possibilidade de fazer GP’s conjuntos com a Fórmula 1. Estará tudo louco?
Sendo indesmentível que houve uma enorme evolução nas motos, com os recordes de volta a seres batidos a cada Grande Prémio, com as motos cada vez mais sofisticadas, a arrancar melhor, a travar melhor e a chegar a velocidades vertiginosas que já superam os 370 km/h, a segurança dos pilotos é cada vez mais uma questão em cima da mesa, e muitos se queixam que a Comissão de Segurança do MotoGP (liderada pelo antigo piloto Freddie Spencer) deveria ser mais interventiva… nas condições de segurança dos circuitos e nos acidentes que se multiplicaram de forma catastrófica nesta temporada ‘louca’ de 2023. Spencer (que desde 2019 ocupa o cargo de Chief Steward do MotoGP FIM) e os seus pares, mais uma vez vão fechar os olhos a esta situação?
Sinceramente, deixa-me saudades os tempos de Wayne Rainey, Kevin Schwantz e Mick Doohan, de Valentino Rossi e dos seus duelos inesquecíveis com Max Biaggi, Casey Stoner e Jorge Lorenzo, saudade de um tempo onde a boa disposição imperava ao lado de uma PAX que reinou durante muitos anos nos Grandes Prémios, com bastante menos acidentes e muito mais duelos que empolgavam os fãs das corridas de motociclismo.