MotoGP, 2021, técnica: chatter, chatter! Parte 2

Por a 25 Julho 2021 17:30

À medida que se aprende mais sobre suspensão e pneus, o chatter deixou de ser um problema tão grave como antes, mas ainda se manifesta

Vimos na primeira parte como o chatter está relacionado com amplitudes de ressonância numa moto que a podem desequilibrar.

Cada objeto tem frequências de ressonância naturais que podem levá-lo a amplificar a frequência e fora da gama natural, distorcer o comportamento normal.

Pontes e edifícios desmoronaram-se devido a este fenómeno (é por isso que os exércitos se desviam de uma ponte, por exemplo) e esse poder destrutivo tem o mesmo efeito sobre uma moto.

Numa  moto, o chatter começa frequentemente logo após o piloto libertar a última parte da pressão de travagem e desaparece assim que volta a abrir o acelerador. Por isso, acontece especialmente durante a fase de roda livre. Custa tempo por volta, mas não provoca quedas.

A cura mais fácil para isto numa moto?

Mudar a frequência no punho do acelerador ou adicionar um toque de travão:

Como tocar uma guitarra e subir pela prancha de trastes, está-se a aumentar a tensão na corda e a mudar a frequência da moto à medida que se abre ou fecha o acelerador.

O objetivo de uma moto de corrida é apertar a corda, acelerando e forçando o centro de gravidade para a traseira da moto. Mas é mais fácil dizer do que fazer para um piloto, com a moto a sacudir debaixo de si devido às forças do chatter, e a empurrá-lo para fora.

Tipicamente, o chatter é causado pelo agarra-desliza-agarra do pneu

Nesse caso, abrir o acelerador pode tornar as coisas ainda piores, e levar a uma queda. A emenda pode ser pior que o soneto. Por vezes, apenas esperar que o chatter passe e aceitar a perda de tempo é a melhor opção.

Na era atual da aerodinâmica, a chave mais recente para resolver problemas pode vir das carenagens das motos.

As fibras de carbono ultra leves são cruciais para o desempenho, mas dependendo de como o vento bate na carenagem, pode ter um grande efeito no que acontece com a moto.

Será que o ar se move de forma limpa sobre a moto ou está a causar um efeito a jusante noutra parte? Como se pode reduzir os efeitos do chatter?

Há muitas formas de o contornar, desde o estilo de andar de moto e o posicionamento do corpo na moto até equipas que acrescentam pesos a diferentes partes das motos para garantir que as frequências de certas partes possam ser eliminadas. Isto equivale a ajustar o seu estilo na guitarra.

Em vez de uma palheta dura, pode reduzir a força e de repente as notas são as mesmas mas mais limpas.

No entanto, não há garantias, e o problema é que uma solução pode funcionar hoje, mas não amanhã.

Pretende-se reduzir a hipótese de começar a ressonância, mas há centenas de componentes envolvidos.

Eixos cheios de chumbo, ambientes de amortecimento extremo, peças menos apertadas, tudo vale. Até se pode tirar partido dum pneu diferente, mas por vezes, porém, não nos podemos dar a esse luxo.

Um pneu que for sensível ao chatter começa sempre a abanar mais à medida que se vai gastando, um pneu novo é bom durante algum tempo.

Em resumo, um chefe de tripulação está numa batalha constante para tentar fazer cantar as notas a partir do seu instrumento. Por vezes significa trocar palavras duras com o piloto, mas na maioria dos casos trata-se de encontrar um compromisso.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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