MotoGP 2021: Rossi no lado esquerdo na boxe da Petronas

Por a 3 Dezembro 2020 13:00

A Petronas resignou-se a deixar passar a sua descoberta Fabio Quartararo para a equipa de fábrica da Yamaha. Em troca, chega a lenda viva Valentino Rossi, mas numa fase terminal da sua prolífica carreira

“Vale é uma pessoa importante neste mundo, mas fomos claros com ele de que vamos determinar nós a estratégia.”

Wilco Zeelemberg

O team manager Wilco Zeelenberg explica como vai organizar a equipa com Rossi, incluindo uma decisão que pode parecer simbólica, mas que pesa em significado…

15 anos de história comum é todo um passado, e é isso que liga Rossi à Yamaha. Uma história que agora termina nas cores oficiais, mas que continuará em 2021 com uma moto de última geração dentro da equipa satélite Petronas.

Uma mudança que está longe de ser uma despromoção, tendo em conta os resultados de 2020. Na verdade, as máquinas malaias obtiveram seis das sete vitórias da Yamaha esta temporada…

Isto é claro, mas a marca Petronas também fez um bom negócio? A duração das discussões sobre um contrato reconhecido como complexo, dada a dimensão das partes interessadas, é uma indicação de uma relação que se espera que seja muito particular.

No entanto, o chefe de equipa, Wilco Zeelenberg, para quem o Doctor não é um estranho, e vice-versa, vai querer manter o controlo…

Sobre a história da situação agora em vigor, comenta:

“Foi uma combinação de coisas. Em 2019, dissemos aos nossos pilotos que o nosso objetivo como equipa satélite era fazer tudo o que fosse possível para que pudessem ser transferidos para a equipa de fábrica. Ficou claro desde o início que íamos perder o Fábio, devido ao seu excelente desempenho no ano passado. Ele teria preferido ficar connosco, mas as diferenças financeiras teriam sido demasiado grandes para ele.”

“A Yamaha queria o Fábio e não queríamos lutar por resultados. A Yamaha também já tinha prometido a Valentino um lugar para a temporada de 2021. Depois surgiu a pergunta: podemos fazer o Valentino atuar melhor do que este ano? Havia outros pilotos no mercado, mas não se conseguia decidir um nome em particular, e a Yamaha prometera ao Valentino este cargo connosco. Teria sido tolice não considerar este desafio com o Valentino.”

Um resumo que revela que a Petronas, se queria continuar a assegurar motos de topo, nunca teve mão neste recrutamento…

Mas agora que o negócio está feito, Zeelenberg indica que Rossi será um piloto como qualquer outro. Uma mensagem que já transmitiu, posicionando o Doutor de uma forma particular na boxe:

“Vale é uma pessoa importante neste mundo, mas temos sido muito claros com ele: se andares pela Petronas, vamos determinar nós a estratégia. Claro que ele queria trazer o seu pessoal com ele. Dissemos-lhe que no final do dia, temos a responsabilidade final com a Petronas, apesar do seu contrato com a Yamaha. Também lhe dissemos que ia substituir o Fábio, por isso também vai ocupar o seu lugar na boxe.”

Um ponto em que Zeelenberg insiste: “Ele estará do lado esquerdo da garagem. Então este não é o outro lado, a que estava habituado na equipa de fábrica. Isto pode parecer um detalhe, mas era importante que ele não tomasse o lugar de Franco. Queremos que se motivem mutuamente.”

Com a sua marca de autoridade assertiva, o mesmo Zeelenberg aliviou a pressão concluindo: “É uma honra para toda a equipa. É uma honra ser o chefe de equipa ou mecânico de Valentino Rossi. Será também um desafio para nós, pois vamos tentar repetir os resultados que já alcançámos com o Fábio nos últimos dois anos.”

Um fator pouco considerado, mas que pode ser importante, é justamente o facto de a Petronas ser uma equipa satélite e passar ao lado da por vezes arrogante atitude das equipas de fábrica.

Se vai ter um piloto com o palmarés e a experiência de Rossi na sua boxe, é natural que o escute quanto às afinações da moto.  

Sabemos como Rossi se incompatibilizou com a Honda há muitos anos perante a atitude arrogante da HRC de “nós é que fazemos a moto, tu só tens de andar nela” que ainda por cima encontrou replicada na Ducati e, até certo ponto, na Yamaha também. E como é difícil fazer os japoneses mudar coisas nas motos, com Rossi a referir ao longo dos anos como tinha conseguido finalmente uma melhoria ao fim de muitos pedidos e súplicas.

Em 2021, Valentino Rossi terá a última geração da M1, mas ao contrário dos japoneses, a Petronas dificilmente hesitará em seguir os seus mais ínfimos desejos na afinação da moto, até para não haver a desculpa que não lhe deram a moto que ele queria…

Entretanto, o seu companheiro de equipa Franco Morbidelli, que é da sua academia VR46, continuará com uma Yamaha de 2019, uma opção que o satisfaz plenamente, dado os seus bons resultados de 2020, que o levaram ao posto de vice-campeão do mundo…

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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alessandrohansenvargas
alessandrohansenvargas
4 anos atrás

Penso que, com o congelamento de desenvolvimento, a M1 2019/2020 do Franco deverá continuar andando bem, caso ele termine “fazendo poeira” em cima dos pilotos de fábrica novamente em 2021, se candidata automaticamente ao lugar do Top Gun… ou a Yamaha correrá o risco de vê-lo seguir passos na direção de outra equipa em 2022

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