MotoGP, 2021, As senhoras: Ana Ezpeleta

Por a 8 Setembro 2021 18:30

Ana Ezpeleta é diretora da Dorna Talent Promotion, o departamento que transforma jovens talentos em profissionais do MotoGP

“Contribuo para o crescimento dos pilotos de amanhã”

Ana Ezpeleta

Ana Ezpeleta nasceu em Madrid em 1985, e quando tinha dois anos, o seu pai começou a seguir o projeto de construção do Circuit de Barcelona-Catalunya e em breve permitia que Ana o acompanhasse aos Grandes Prémios. Fascinada por este mundo de motos a andar depressa em circuitos por todo o mundo, Ana assistia como espetadora, mas alguns anos mais tarde, está empenhada num papel de liderança onde apoia o futuro da MotoGP.

“Não consigo imaginar um mundo sem motos“, começa Ana, pensando nos dias em que seguiu o pai Carmelo Ezpeleta, diretor-geral da Dorna Sports SL, para trabalhar quando ele estava a iniciar a empresa que todos conhecemos hoje como a organização dos mais prestigiados Campeonatos de duas rodas.

Mergulhada e intrigada por este ambiente em rápida evolução que percorre todos os cantos do globo, aos 16 anos, Ana começou a trabalhar no paddock, tornando-se parte do departamento que acompanha a VIP Village – uma atividade que lhe permitiu conhecer uma das muitas partes que compõem o Campeonato Mundial de MotoGP:

“Ainda estava na escola, por isso só participava nos Grandes Prémios de Verão e depois do dia no circuito regressava ao hotel para estudar. Foi assim durante 10 anos, durante os quais visitei muitos países e estabeleci amizades com pessoas que hoje considero a minha segunda família”.

Após completar os seus estudos universitários em economia e gestão, Ana decidiu dar uma oportunidade à sua outra grande paixão: o design.

“O mundo da arquitetura e decoração sempre me fascinou, por isso estudei e trabalhei em Milão como designer de interiores durante três anos”.

Entusiasmada por aprofundar os seus conhecimentos no mundo do design Ana encontrou-se afastada dos circuitos e percebeu o quanto sentia falta da adrenalina da MotoGP:

“Quando vivi em Milão, organizei com os meus amigos assistir às corridas e foi vivendo e partilhando com eles o entusiasmo por este desporto que me apercebi do quanto sentia falta dele”.

Habituada a conceber os seus projetos até ao último pormenor, em 2011 foram as circunstâncias que traçaram o caminho para Ana.

“Nessa altura, a Dorna estava a receber muitos pedidos de construção de circuitos em todo o mundo. Na altura, tínhamos o Manual de Promotores para circuitos que já existiam e desejavam receber o Campeonato, mas não havia manual com instruções para construir um circuito a partir do zero”.

Ana, que tinha visto uma pista construída quando criança, tornou-se o ponto de referência da Dorna para promotores que queriam criar um circuito que acabaria por acolher a MotoGP:

“Em 2013 comecei como Gestor de Desenvolvimento de Novas Pistas e a beleza deste papel foi poder combinar a minha paixão pelo desenho com a paixão pelo motociclismo”.

A primeira missão de Ana neste papel viu-a voar para a Argentina com seis pilotos de MotoGP para testar a nova pista em Termas de Rio Hondo. Um desafio complicado com enormes distâncias, em contraste com o desejo inevitável de completar um projeto ambicioso. A missão foi bem sucedida e a pista argentina acolhe um Grand Prix desde 2014.

Fazê-la regressar ao paddock como Diretora do departamento focado no crescimento das estrelas de amanhã, foi, à sua maneira, um desafio para Ana: “Algumas das pessoas com quem trabalho conhecem-me desde criança e tenho de me lembrar qual é o meu papel atual e foi gratificante ver como sempre respeitaram e ouviram as minhas opiniões”.

Em várias ocasiões, o profissionalismo de Ana e o seu conhecimento da dinâmica do Grande Prémio permitiram-lhe tornar-se uma referência nos momentos agitados:

“Tendo crescido neste mundo, permite-me encontrar soluções rápidas mesmo em tempos de pressão, uma qualidade que é frequentemente elogiada pelas pessoas com quem trabalho e ouvi-lo dizer é uma verdadeira satisfação”.

Ao mesmo tempo, em 2013, nasceu também a Idemitsu Asia Talent Cup, um projeto que Ana ajudou a construir juntamente com Alberto Puig (acima): “Ele foi o meu mentor, a sua experiência neste ambiente e o seu talento para identificar talentos nos pilotos é incrível”.

Com a aquisição gradual de outros projetos, como a Junior Talent Team, que já fazia parte do Campeonato FIM CEV Repsol, e o início de uma estreita colaboração com a Red Bull Rookies Cup, nasceu em 2015 o Departamento New Riders.

Seis anos mais tarde é chamado Departamento de Promoção de Talentos, um ramo que gere e organiza seis programas Road to MotoGP: A Northern Talent Cup, Asia Talent Cup, British Talent Cup, Red Bull Rookies Cup, Junior Talent Team e o novo MiniGP, que em Portugal iniciou em Évora há dias.

Cada um destes programas centra-se em determinadas áreas geográficas. Apesar de terem características diferentes, as motos disponibilizadas aos pilotos participantes na Taça são todas iguais, pelo que é o talento do indivíduo que emerge.

A gestão das relações humanas, especialmente quando se trabalha com pilotos muito jovens, é um aspeto por vezes complexo de gerir mas que, ao mesmo tempo, compensa, como diz a própria Ana:

“O que me motiva e me enche de satisfação é ver estes jovens crescer na sua carreira profissional e saber que alguns deles, se não fosse a Dorna, não poderiam aspirar a tornar-se profissionais. Antes de cada corrida de Moto3 vou cumprimentá-los um a um e às vezes brinco dizendo que mais cedo ou mais tarde eles terão de aumentar o tempo disponível para a grelha para que eu possa cumprimentá-los a todos”.

Tendo passado muito tempo imersa em diferentes usos e costumes, Ana tornou-se uma intérprete atenta das nuances culturais, contribuindo, com o apoio das pessoas que fazem parte do seu departamento, para a criação de Taças que se adaptam às necessidades e peculiaridades culturais:

“Nos últimos anos percebemos que é importante moldar estes formatos para diferentes países. Por exemplo, em Itália e Espanha, as condições climatéricas e a presença de muitos ídolos nacionais significam que as crianças entram nas motos logo aos cinco ou seis anos de idade. Contudo, nos países do Norte da Europa ou da Ásia, geralmente começam a andar de moto quando são adolescentes. Assim, conseguimos criar o MiniGP World Series, um projeto que visa uniformizar a preparação de todos os jovens motociclistas que queiram tornar-se profissionais e não excluo que este formato facilite a entrada mesmo a raparigas que sonhem em tornar-se pilotos”.

Em retrospetiva, a própria Ana está surpreendida e orgulhosa de quão longe chegou: “Se, quando este departamento nasceu, me tivessem dito que em tão pouco tempo se teria tornado o que é hoje, não teria acreditado”.

Testemunhando como o paddock tem progressivamente acolhido cada vez mais mulheres envolvidas em diferentes papéis, Ana encontra motivação em cada novo desafio, podendo partilhar os numerosos sucessos com o seu pai, Carmelo Ezpeleta, e com o seu irmão Carlos – Director Geral do MotoGP:

“Tenho orgulho em trabalhar com eles, é um privilégio. O meu é o pai que todos gostariam, uma fonte constante de inspiração da qual eu e muitos outros temos sempre algo a aprender”.

A pandemia forçou a reorganização dos eventos e o Campeonato Mundial de MotoGP irá estrear-se no Circuito Internacional de Rua Mandalika mais tarde do que anteriormente previsto.

A construção da pista indonésia é outra grande satisfação para Ana:

“Se este circuito nasceu, é em parte graças ao sucesso da Idemitsu Asia Talent Cup. Contribuímos para a realização deste projeto e tenho a certeza que será muito excitante para mim ver os pilotos de MotoGP a competir nessa pista”.

Com um recorde de sucesso, Ana e o departamento de Promoção de Talentos estão a preparar-se para organizar novos desafios cada vez mais excitantes, para que a MotoGP continue a ser um dos mais belos espetáculos do mundo.

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