MotoGP, 2021, Aragón: A lealdade recompensada
A recente vitória de Pecco Bagnaia foi a 250ª da Itália na classe rainha, mas outras nações estão a ter de esperar um pouco mais por outra vitória
Dois brilhantes sucessos esta semana, um em duas rodas e o outro em quatro, sublinharam que a lealdade será sempre recompensada, diz o veterano jornalista Nick Harris.
A magnífica vitória de Pecco Bagnaia na classe rainha em MotorLand Aragón no domingo, sete dias após a vitória de Max Verstappen na Fórmula 1 em Zandvoort ter posto a Holanda louca, foram uma ilustração perfeita disso.
O problema é que esses sucessos podem estar ao virar da esquina para uns, mas a décadas de distância para outros.
A bem sucedida luta de Bagnaia com Marc Márquez garantiu à Itália a sua 250ª vitória na classe rainha.
A vitória de Verstappen em casa entre as dunas de areia de Zandvoort trouxe celebrações inacreditáveis da multidão patriótica faminta de sucesso em casa.
Não admira que a Holanda tenha comemorado porque sucesso nos desportos motorizados, especialmente no asfalto, há muito que era devido a uma nação que demonstra uma lealdade espantosa, mesmo sem ter pilotos vencedores.
Que outro desporto poderia produzir tal lealdade, apesar de não testemunhar um piloto doméstico a ganhar uma corrida de MotoGP da classe rainha durante 40 anos?
Nomeiem-me outro desporto que atraia multidões recordes todos os anos para o circuito de Assen, que organizou corridas de Grande Prémio desde o início, em 1949, e que ganhou justamente o título de Catedral dos Grandes Prémios.
Não foram só os holandeses que demonstraram tal lealdade. Enormes multidões afloram todos os anos ao Sachsenring, apesar da única vitória alemã na categoria rainha ter sido há 47 anos atrás.
Há duas semanas, a participação restrita de Silverstone esgotou-se, apesar de um piloto britânico nunca ter ganho uma corrida da classe rainha no seu Grande Prémio de casa, desde que mudou da Ilha de Man. Sheene esteve perto em 1979, sem levar o prémio.
Os holandeses sabem certamente como festejar, evidente há 41 anos atrás quando o herói local Jack Middelburg (acima) venceu a corrida de 16 voltas de 500cc sobre Graziano Rossi e Franco Uncini para dar início às celebrações dos mais de 100.000 espetadores, sem igual desde então.
O sítio ficou completamente louco. Não no sentido do fogo de artifício organizado de Zandvoort na semana passada, mas apenas uma explosão de laranja e alegria alimentada por alguma cerveja local, que parecia durar para sempre.
Poderia pensar-se ingenuamente que cada Grande Prémio seria assim, mas Assen naquela tarde, e pela noite adentro, estabeleceu um precedente que nunca foi ultrapassado.
Um ano mais tarde, Middelburg ganhou o Grande Prémio da Grã-Bretanha em Silverstone e foi o fim, até porque viria a perder a vida em 1984 num circuito urbano.
Um holandês nunca ganhou outra corrida da classe rainha. Nove anos mais tarde, em 1990, Wilco Zeelenberg ganhou o Grande Prémio da Alemanha de 250cc em Nürburgring e Hans Spaan ganhou cinco Grandes Prémios de 125cc e garantiu a última vitória de sempre de um holandês em Grande Prémio, mas no entanto as multidões continuam a afluir a Assen todos os anos, encontrando algum consolo nas vitórias de Michael v d Mark nas Superbike.
Apesar do grande sucesso nas classes mais pequenas graças aos esforços de Toni Mang, Dirk Raudies, Ralf Waldmann e Stefan Bradl, a Alemanha só provou o sucesso na classe principal numa ocasião e, mesmo nessa altura, foi um vitória controversa. Edmund Czihak venceu a corrida alemã de 500cc de 1974 no Grande Prémio de Nürburgring, quando todos os pilotos de topo boicotaram a corrida por razões de segurança.
Cal Crutchlow trouxe alguma alegria muito necessária aos fãs britânicos com três vitórias na categoria rainha, mas tiveram de esperar 35 anos.
Antes de Crutchlow, o último vencedor da primeira classe britânica fora Barry Sheene em 1981, num desporto outrora dominado por pilotos e maquinaria britânicos.
No entanto, as multidões afluíram a Silverstone há algumas semanas, sabendo que nenhum piloto britânico tinha ganho a corrida da categoria rainha em solo nacional desde que mudou do circuito da Ilha de Man, em 1977 e nenhum o faria em 2021.
Não foi grande surpresa que as corridas de sidecar, cujo Campeonato termina no Estoril daqui a umas semanas, fossem tão populares na Holanda, Alemanha e Grã-Bretanha.
Todos os três países produziram alguns brilhantes Campeões do Mundo em três rodas para os adeptos, que se destacaram pelo sucesso nos Grandes Prémios.
Não admira que tenham acolhido corridas do Campeonato Mundial de sidecar muito depois das corridas de sidecar terem deixado de fazer parte do Campeonato Mundial oficial em 1996 e começarem a correr separadamente.
As corridas de sidecar nunca mais voltarão ao calendário oficial do Campeonato do Mundo.
Max Verstappen pode recompensar os fãs holandeses com o Campeonato do Mundo de Fórmula 1, mas o que esses fãs holandeses, alemães e britânicos realmente merecem pela sua lealdade e paciência é a recompensa final de sucesso em MotoGP. A longa espera, por muito longa que seja, valerá a pena. Basta perguntar a Fabio Quartararo e aos adeptos franceses, ou aos portugueses, que esperaram 70 anos por Miguel Oliveira!