MotoGP, 2020: Oliveira e a diferença da KTM

Por a 10 Agosto 2020 15:30

Como explicar Quartararo a “aviar” há dois anos as motos de fábrica da Yamaha, ou, mais recentemente Morbidelli com o seu pódio de estreia? Alguém se esqueceu de lhes explicar que as suas moto são supostamente inferiores?

Ainda é uma convicção arreigada de muitos fãs, frequentemente repetida nas redes sociais para desculpar algum resultado menos bom de Miguel Oliveira, que há uma vasta diferença entre as motos de fábrica e as de cliente, senão mesmo entre os dois lados da garagem numa mesma equipa, que favorecia, por vezes supostamente por contrato, pilotos como Rossi ou Lorenzo contra os seus colegas de equipa.

Enquanto pode ser verdade que nos contratos mais chorudos dos Campeões exista uma cláusula a esse respeito, ela refere-se apenas à prioridade de assignação de novos desenvolvimentos… ou seja, se de uma corrida para outra, se a fábrica só teve tempo de fazer uma peça, essa vai para o piloto mais credenciado em primeiro lugar…

De resto, se as diferenças fossem assim tão vastas, como explicar Quartararo a “aviar” há dois anos as motos de fábrica da Yamaha, ou, mais recentemente com o seu pódio de estreia, Morbidelli? Alguém se esqueceu de lhes explicar que as suas moto são supostamente inferiores?

E que dizer do resultado de Zarco, pole e pódio, numa moto que o seu colega de equipa Rabat nem nos pontos consegue colocar?

O verdade é que as moto desenvolvem-se exatamente ao ritmo da exigência de quem as pilota, e a diferença que existe, porque ela existe, é uma de filosofia de marca.

No caso da KTM as 4 motos são exactamente iguais, e nem outra coisa faria sentido.

Quando a Honda, por exemplo, fazia um peça especial para Doohan ou Márquez, primeiro, não a davam logo aos outros pilotos porque, primeiro, não havia garantia que outro piloto, com estilo e técnicas de condução provavelmente vastamente diferentes, a pudesse aproveitar do mesmo modo…

E segundo porque, num caso de urgência, de um Grande Prémio para outro, além das conhecidas dificuldades das marcas japonesas na “decisão por comité”, para não excluir nem ofender ninguém (uma das forças da Ducati, em que a ligação equipa-oficina é estreitíssima e a resposta imediata, e na KTM deve passar-se o mesmo) uma coisa é fabricar duas peças novas para uma moto, outra equipar as outras 6 motos na grelha com a mesma peça (3 pilotos com duas motos cada!) e ainda fazer peças sobresselentes a mais caso alguém… hum… visite a gravilha nos treinos!

Ah, mas e a KTM não tem o mesmo problema? Não, na KTM é exactamente ao contrário… Desde logo, Pit Beirer toma as suas decisões instantaneamente (como quando anunciou a um estupefato Paddock que iam sair das Moto2 para se concentrar na MotoGP, bastando ver as caras dos elementos da equipa para perceber que era tanto novidade para eles como para os jornalistas presentes) e depois, justamente por serem uma fábrica pequena, é mais prático fazer logo 8 peças iguais, em termos de fabrico, custo e distribuição e gestão de stocks, que também permite equalizar o tratamento aos pilotos e que vença o melhor. Mesmo que, em boa justiça, Beirer anunciasse também que, em caso de dúvida ou dificuldade com replicar uma solução a curto prazo, o critério seria o piloto mais bem classificado e por aí adiante.

Depois, há a vantagem adicional de que uma peça que não signifique muito para um piloto, possa ser uma revelação para outro.

Há uns anos, a Aprilia nas 250 tinha uma política de apoio às equipas clientes em que um elemento da fábrica andava pelo paddock disfarçadamente a dar peças especiais a uma equipa ou piloto, que sonegava a outra… É fácil ver que poucas coisas, ainda por cima passando-se isto normalmente entre Italianos, causariam mais intriga, má fé e discussões internas no paddock como essa política desavisada…

Polarity Photo

Pelo contrário, dar sempre o mesmo a todos, ao mesmo tempo, tem outra grande vantagem para um “pequeno” fabricante como a KTM: a coisa funciona nos dois sentidos, ou seja, se as motos são idênticas em especificação, os dados recolhidos pela equipa cliente, no caso a Tech3, são tão relevantes para a fábrica como os da equipa oficial, ou corroborando estes, ou, pelo contrário, dando outra visão e aproximação à resolução de um qualquer problema…e já mencionámos várias vezes que a equipa técnica de Hervé Poncharal na Tech3, liderada pelo guru Guy Coulon, que já por várias vezes criou as sua próprias motos de corrida, tem uma experiência vastíssima de competição, provavelmente mais até que a KTM… ignorar as suas descobertas, que permitem acelerar exponencialmente o desenvolvimento, seria um desperdício e folia, o oposto do que a KTM tem procurado fazer, buscando por todos os meios disponíveis e com tanto afinco o resultado que agora conseguiu e que, quem sabe, marca o despontar de uma nova era em MotoGP…

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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