MotoGP, 2020, Le Mans: Dovizioso desabafa

Por a 3 Outubro 2020 11:30

­Como é que um piloto se torna campeão mundial? Quanto trabalho é preciso para se sustentar no topo da pilha ao longo dos anos quando tantos outros não conseguem? Que tipo de mentalidade precisa de ter um concorrente de elite? Que tipo de vida pode ter um dos melhores protagonistas do desporto fora do paddock?

Estas são apenas algumas das questões ardentes discutidas por Andrea Dovizioso, da Ducati Team, que discute o que é preciso para se tornar um dos melhores.

O italiano corre na classe rainha desde 2008 e está em 2º lugar no Campeonato do Mundo há três anos consecutivos, sendo apenas batido nesse aspeto pelo seis-vezes Campeão de MotoGP Marc Márquez em cada uma dessas ocasiões. Detém também um Campeonato do Mundo de 125cc em seu nome, além de acumular 24 vitórias em corridas e 103 pódios ao longo da sua carreira.

Uma das figuras mais intrigantes do nosso desporto, Dovi tinha muito a dizer, e também discute a importância de se rodear das pessoas certas e a sua visão sobre as rivalidades que existem dentro do paddock.

Então, o que é preciso para se tornar um piloto tão consistente?

“É uma história um pouco longa, porque um resultado nunca vem de uma só razão, especialmente a este nível. Há um grande esforço de muitas pessoas, muitas coisas, e a vitória acontece um dia, mas há uma longa história por detrás. Em 2016, durante o verão, também fiz um curso de uma semana sobre preparação psicológica, com a minha namorada.

Foi muito bom, muito invulgar, especialmente para um piloto de MotoGP fazer isso. Mas foi uma experiência tão boa e ajudou-me a entender muitas coisas sobre as pessoas. E isso ajudou-me a gerir todas as situações da minha vida privada e profissional de uma forma completamente diferente, com uma aproximação diferente”, diz Dovi.

“Ajudou-me a dar um passo, por isso tornámo-nos mais fortes e mais fortes porque a moto estava cada vez melhor, e a tua mente pode condicionar… Bem, pode condicionar tudo, se quisermos. Não é assim tão fácil, mas tens mais poder do que pensas. Foi um curso que me explicou como as pessoas são, todos, como eu, como vocês! E isso ajudou-me a compreender todas as situações.”

“Quando tudo está no limite, as pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. A minha confiança também melhorou um pouco mais e foi o suficiente para começar a ganhar e ser capaz de me aproximar, porque a abordagem fez a maior diferença para tudo, não apenas para a corrida. À vida. Antes, em primeiro lugar, está a vida e depois é trazê-la para as corridas!”

Se estás aberto a escutar, isso faz uma grande diferença…Isso não se aplica a todos os pilotos nem funciona o tempo todo, mas as pessoas que te rodeiam, cada uma tem que estar ao mesmo nível e se calhar ainda acima, porque se o piloto quiser tomar todas as decisões e agir corretamente em todas as situações, é impossível tomar a decisão correta e ser suficientemente esperto para entender tudo o que rodeia..”
“Para mim é muito importante perceber tudo o que os pilotos fazem, não apenas o resultado final..”
“Não é apenas uma questão de me separar das coisas, a questão é que eu adoro viver assim.
Sou uma pessoa muito rigorosa, gosto de acertar em cada detalhe e viver com tudo organizado e isso segue para a minha vida no MotoGP também.”

O que é que DesmoDovi faz para fugir do stress do paddock? Uma viagem exótica ao redor do mundo, com hotéis de cinco estrelas e suites de luxo e algumas das melhores praias e bares disponíveis? Não de todo, antes, gosta de um toque mais simples e pessoal para as suas férias. São as caravanas que são a sua primeira escolha para ir ao seu destino, mas porquê?

“Não só para me separar (do paddock) mas porque gosto de viver assim. Todos os pilotos vieram daquela situação. Normalmente, se é um piloto italiano, vem de corridas de minimoto e motocross infantil, e normalmente vive-se num acampamento num pequeno furgão com todos os outros pilotos e famílias. Esta é a situação normal. Depois, quando se vem ao Campeonato do Mundo, tudo muda, especialmente no MotoGP. Mas eu adoro viver assim, não é sobre ir para casa, então eu quero estar relaxado, viver de uma maneira diferente, é o que eu gostaria de fazer todos os dias.

Adoro corridas amadoras de Motocross. Por causa da forma como preparas a pista, a forma como vives durante os dois dias, é completamente diferente. Vim do Motocross, foi o meu primeiro desporto. Por isso, nunca me esqueço disso. Normalmente aproveitava a ida aos Estados Unidos e à Argentina para passar uma semana na Califórnia e andar nas pistas locais de Cross, que é um sonho para um piloto de Moto Cross… Especialmente para mim, as pistas do Super Cross são fantásticas e o sigo tudo, é fantástico para mim seguir uma corrida dessas…

Nem me importa se tenho que apanhar outro voo e ficar com jet lag, é uma coisa que eu adoro!”­

“Quanto às rivalidades no paddock, não me importo se um piloto consegue bater-me, se é melhor do que eu, vai bater-me e eu estou bem com isso, não me enerva, se ele é melhor que eu, boa sorte!”

“Por vezes, parece que todos temos uma boa relação entre pilotos, mas a maior parte das vezes, não é assim… podemos ter uma boa relação, mas tornarmo-nos amigos fora do paddock, é muito difícil!”

“Em termos da vida familiar, ser um pai agora, quando temos uma filha e ela te chama “pai” é uma sensação incrível!”

“Quanto às coisas importantes, gostar do que fazes é muito importante… Parece uma coisa óbvia, mas a este nível, não é fácil, é fácil perdermos a noção de porque fazemos aquilo que fazemos!”

author avatar
Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
2 2 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x