MotoGP, 2020, Estíria: O regresso apoteótico de Miguel Oliveira

Por a 25 Agosto 2020 13:00

Miguel Oliveira, sempre consciente das suas responsabilidade enquanto referência, tinha pedido aos fãs que não criassem aglomerações à sua chegada ao Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa, e teve uma animada conversa em entrevista com os meios de comunicação presentes à chegada ao Aeroporto.

Começou por agradecer a receção dos meios de comunicação social, mas dizendo:

Julgo que esta receção poderia ter sido vivida de forma ainda mais apoteótica mas fui eu próprio a pedir aos fãs que não acorressem aqui ao aeroporto por causa desta situação do Covid.

É óbvio que eu estou vulnerável a esta situação, para mim se corresse o risco de contrair Covid nem sequer poderia entrar no Paddock porque a Dorna tem sido fantástica das medidas de prevenção na Moto GP…

Ontem foi um dia extraordinário, pelas mensagens de apoio que recebi, toda a adoração dos fãs que quero agradecer aqui, tem sido extraordinário…

Eles vibraram todos naquele última volta, até mais do que eu, com aquela emoção que nos é reconhecida enquanto portugueses e por isso, obrigado.

Ser campeão do mundo obviamente que é um sonho, mas acho que agora é mais um objetivo, continuando nesta linha dos pódios e das vitórias é certamente possível.

O acumular dos pontos no final do campeonato é que conta, estamos a viver uma situação completamente distinta das temporadas anteriores, com rondas seguidas umas às outras, e é tudo muito imprevisível.

Temos corridas em que as coisas correm de uma forma, depois outras em que não correm bem da forma que estamos à espera, como as bandeiras vermelhas na Áustria…

Portanto eu julgo que o importante para alcançar qualquer título é manter a consistência. Naquela última volta em que eu estava em terceiro, acho que é sempre necessário saber raciocinar em cima da moto, ter estratégias, saber ler os adversários e prever certas situações, é necessário fazê-lo enquanto se está em cima da moto e à velocidade com que tudo se passa, parece fácil visto de fora, mas a realidade é que existe muito pensamento, muito foco em relação a esses momentos.

A última volta de ontem foi simplesmente um aproveitar de oportunidades e colocar-me no sítio certo à hora certa. Eu próprio estava arrepiado, porque tudo aquilo se passou muito rápido, obviamente ver uma chegada sem ninguém à minha volta e à minha frente a bandeira de xadrez, é uma explosão de adrenalina imensa…

Na verdade foi das vitórias que mais emoção me deu, por ter uma vitória em MotoGP tão sonhada e desejada.

Tudo começa por nós acreditarmos e a verdade ontem é que eu não me via chegar em terceiro ou segundo, portanto foi um aproveitar as oportunidades, que me fez acreditar que realmente o primeiro lugar era possível.

Quanto ao Grande Prémio de Portugal em Portimão, é uma prova a que vamos todos chegar numa situação incerta, porque não vamos poder treinar nessa pista…

Grande parte da grelha não conhece o traçado e eu conheço, tenho essa vantagem, espero que seja um grande fim-de-semana a celebrar ter um grande evento de nível mundial a ser realizado em Portugal, e sobretudo como único português na MotoGP usar esse dia para poder brindar os portugueses com um grande espetáculo e que se deseja que seja obviamente a vitória.

Ontem pareceu um sonho, mas felizmente vivi-o bem acordado e foi fantástico.

Quanto ao respeito dos outros pilotos, à medida que nos vamos colocar nos lugares mais desejados, obviamente que a atenção dos outros pilotos muda, mas é algo natural…

Eu acho que vivemos numa época onde o respeito entre pilotos é um tópico que surge regularmente e eu gosto de ser respeitado em pista, mas é algo que se ganha por mérito próprio.

Recebi tanto apoio, tanto carinho, tantas mensagens, todas as mensagens são especiais por diversos motivos, eu recebi parabéns de diversas pessoas de diversas áreas e portanto daí senti-me tão grato porque não tinha noção de que estava tanta gente a ver (risos) e a vibrar com a minha corrida.

No geral, acho que todos os concorrentes ficaram contentes por ter sido eu a ganhar excluindo um ou outro. Aquela coisa de deitar a língua de fora, como me chamam o Einstein do Paddock, queria fazer aquele paralelo, é uma alcunha que acho que me assenta bem, não sei.

Gostava de celebrar com todos os meus fãs, para o bem de todos o mais cedo possível, mas quando estiverem reunidas todas as condições, só o tempo dirá.

As coisas são estranhas agora a começar pelo ambiente do pódio onde não temos público, o ambiente que se vive no padock é um ambiente muito diferente sem os fãs a pedir selfies ou autógrafos, mas é o que podemos fazer no cenário atual da Pandemia.

Com todas as restrições acho que podemos dar-nos por gratos de fazer aquilo que amamos… Este troféu vai para a minha prateleira, tem lá um espaço reservado pra ele. Já tenho alguns, mas espero continuar aumentar a coleção.

E não foi fácil gerir uma semana em que por assim dizer vim do inferno para ir para o paraíso, com aquela queda e uma semana depois a vitória.

Não foi fácil, mas existe todo o trabalho que foi feito atrás, começando pela equipa, todo o trabalho que vivemos era um ambiente de desforra, de uma forma toda a equipe sentia que o resultado devia chegar, por todo o trabalho que tínhamos feito.

O que se passou no primeiro domingo foi mau, mas acabou por ser um incidente de corrida, obviamente poderia ter sido evitado, mas isso já não interessa entrar sequer em discussão, mas passar do ponto mais baixo para um ponto alto assim, a explicação foi sempre nós acreditarmos, continuámos a trabalhar, temos de tirar o positivo, usamos toda a frustração e toda aquela raiva como uma motivação ainda maiores para fazermos um bom trabalho este fim-de-semana.

Depois de toda aquela emoção no pódio, já nem não vou conseguir passar despercebido, pelo menos todos os portugueses por quem passei, mesmo de máscara,identificaram-me de imediato, talvez por ter aqui o meu nome, não era difícil. Fica-se com essa sensação de gratidão também…

A vitória, foi tudo uma combinação de factores, em primeiro lugar foi a troca de pneus, eu quando saí para a grelha na primeira corrida com pneu duro, olhei para o céu e vi tantas nuvens, parecia que a temperatura iria baixar bastante e cheguei à grelha pedi à equipa para trocarem o pneu da frente rapidamente.

No início da corrida comecei logo a dizer mal da minha vida porque tinha escolhido aquele pneu, mas a partir do meio da corrida estava já conseguir um ritmo muito interessante, muito competitivo, para chegar pelo menos aos lugares perto do pódio do top 5..

Depois, acontece a bandeira vermelha e tivemos oportunidade de trocar para o pneu macio que eu tinha dito que não queria no início da corrida, também fizemos uma estratégia para guardarmos um extra traseiro de reserva.

Isso mudou a minha corrida completamente, pude ser muito competitivo, o arranque foi ótimo, fiz uma primeira curva excelente, posicionei-me bem para a travagem de curva 3, e o resto é história, competição, e foi uma corrida muito lutada, bonita.

Houve aqueles que disseram que não foi uma corrida normal, e é verdade, mas houve oportunidades de lutar para todos aqueles que pudessem e felizmente fui eu!

É verdade que a minha equipa tem um historial incrível na MotoGP e analisando todos os nomes que já passaram por aquela equipa incrível, pensar que fui eu que, enquanto piloto da Tech3, pude dar-lhes esta primeira vitória também é excelente…

Foi um Grande Prémio especial, celebravam-se 900 Grandes Prémios e eu também celebrava o Grande Prémio número 150 da minha carreira, portanto acho que fiz história em muitos aspectos… e no final levar um BMW M4 como Prémio não é nada mau!

Acho que de todas as pessoas que me apoiam o meu pai é o que acredita mais em mim, não digo que seja demasiado otimista mas sempre acreditou em mim e eu sinto-me sem dúvida um piloto capaz de ser campeão, mais cedo ou mais tarde.

Sinto que vai acontecer, ponho sempre muito empenho, muito profissionalismo, muita dedicação, naquilo que eu faço e acho que quando estão em jogo esses fatores os resultados acabam por chegar.

O meu pai neste momento tem de ser a pessoa mais orgulhosa desta sala, acho que o orgulho dele não cabe aqui dentro!

É tudo muito especial, na verdade, ontem fez-se história em tantas coisas que neste momento eu não sei ainda bem onde é que estou, mas daqui a uns anos, acho que estas coisas são para ser vividas, mas obviamente nunca me senti satisfeito só com um resultado e essa eterna insatisfação ainda continua, e portanto quando eu terminar a minha carreira, apenas nesse momento é que será o ponto de olhar para trás e refletir naquilo que se alcançou.

Hoje é um dia para celebrações em família, tem de ser, mas com todos testados, porque o cuidado é imenso, não podemos entrar no paddock sem testar negativo, as medidas são super restritas e portanto tenho estado isolado até agora para que possa continuar a fazer o meu trabalho.”

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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