MotoGP, 2020: 10 factos que marcaram a época, 1: A extraordinária segunda vitória de Miguel Oliveira

Por a 3 Dezembro 2020 17:00

A segunda época de Miguel Oliveira na MotoGP começou bem e acabou melhor, com uma segunda vitória de sonho, desta vez em Portimão no Grande Prémio MEO de Portugal

“Era difícil imaginar, é uma das coisas com que se sonha, mas finalmente conseguir fazê-lo é espantoso!

Ganhar um Grande Prémio nunca há de ser coisa fácil e frequentemente o primeiro sucesso na classe rainha é o facto que os pilotos mencionam quando lhes perguntam pela sua melhor recordação.

Sei que Pablo Nieto, que gere agora a VR46 e só venceu um Grande Prémio na sua carreira, tem um fraquinho pelo Circuito do Estoril  porque foi ali que conseguiu o feito. Para Miguel, a vitória em Portimão veio juntar-se à da Áustria e fazê-lo o único piloto a vencer 2 Grandes Prémios em 2020.

Num ano excecional em que além de Oliveira, venceram Quartararo, Binder, Dovizioso, Petrucci, Viñales, Rins, Mir e Morbidelli, só o primeiro e último venceram 3 vezes, monopolizando com a sua equipa Yamaha Petronas a parte de leão das vitórias em azul turquesa.

Porém, à sua vitória de Portimão, Miguel juntou liderar os treinos livres, com um 1º e 2 segundos lugares antes de vir fazer a pole em 1:38.892, que sendo um circuito novo é agora o recorde da pista em duas rodas, e fugiu na corrida sem nunca ter tido outro piloto por perto, quanto mais à sua frente, num  Grande Prémio em que também fez a volta mais rápida.

O próprio Miguel nunca poderia prever, no início de um ano tão conturbado, o sucesso que quer ele, quer a marca KTM, viriam a ter. Em declarações no início da época, Miguel dissera que, estando no seu segundo ano na classe e na marca, iria rever em alta os seus objetivos, mas o próprio nunca se atreveu a vaticinar uma vitória, até porque dado o estado de incógnita pré-época que rodeava a competitividade da KTM RC16 face às suas concorrentes mais credenciadas, isso poderia parecer arrogante e descabido.

Miguel falou apenas de atacar os lugares próximos do pódio, sempre sabendo que a qualificação seria crítica para esse desígnio. A época começou com oitavo na primeira corrida de Jerez, a que se seguiu na mesma pista, no Grande Prémio da Andaluzia, uma prova sem pontuar, quando o seu colega de marca Binder o abalroou logo no início da corrida.

Seguiu-se um 6º na República Checa, só para tudo terminar com outra colisão com mais um colega de marca, desta vez Pol Espargaró, no Grande Prémio da Áustria. O comentário pós-corrida de Miguel Oliveira – “nem todos nascem com a mesma inteligência!” – levou a que Pol Espargaró lhe pusesse a alcunha, rapidamente adotada pelo paddock, de Einstein, com que Miguel gozou à grande ao imitar no pódio da sua primeira vitória, em Spierlberg, de língua de fora, a famosa foto do pai da teoria nuclear.

Espargaró, que ainda por cima deixaria a KTM sem ter vencido uma única vez, deve ter mordido a língua quando Miguel Oliveira conseguiu essa primeira vitória oportunista sobre Miller e Espargaró, que entretidos na luta um contra o outro, acabariam por cometer um erro que possibilitou ao português ganhar pela primeira vez, e logo na casa da marca Austríaca.

Com esse sucesso, Miguel projetou para a ribalta a Tech3, que nunca vencera em 20 anos de MotoGP, e depois de um GP de San Marino difícil, onde o melhor que conseguiu foi 11º seguiu-se uma grande melhoria, com os dados adquiridos no mesmo traçado, para terminar em 5º no Grande Prémio da Emilia Romagna.

Nos Grandes Prémios a seguir, mais um 5º e um 6º se seguiriam e finalmente, com quatro resultados em alta, a  época culminaria com esta vitória dominante em Portugal que deixou Miguel Oliveira muito contente com o próprio declarou:

“Era difícil imaginar, é uma das coisas com que se sonha, mas finalmente conseguir fazê-lo é espantoso! A Áustria foi uma grande vitória, tive uma grande descarga de adrenalina porque foi uma ultrapassagem de última hora, mas esta foi diferente, foi acerca de gerir todos os meus sentimentos através da corrida e acreditem que foi muito, muito longa, mas consegui consegui concentrar-me a tentar divertir-me o máximo possível em pista.”

“A partir da primeira volta, quando vi que tinha feito uma volta num minuto e 40 baseei nisso as minhas referências através da corrida e consegui relaxar e até aumentar um bocadinho a minha vantagem e gerir o intervalo que poderia ter no final da corrida…”

“Nas últimas 10 voltas, foi mais difícil de gerir a sensação com a moto, mas estava tudo OK, porque tinha um excelente intervalo de vantagem!”

“Nem consigo descrever a sensação de ganhar esta corrida em frente dos meus, conheço muitos no paddock que por causa desta bolha que mantemos de Covid estão há muito mais tempo que eu sem ver as famílias…”
“Finalmente poder estar aqui com eles, e partilhar estas emoções com eles, foi de facto o ponto alto desta vitória!”

“Como somatório da época, acho que aparte as três corridas que não acabei, foi uma época OK, embora tenha sentido que um par de vezes podia ter feito um bocadinho melhor e melhorar mais uma ou duas posições ao fim da corrida, mas temos que estar contentes, porque aprendemos muito, e isto é a coisa mais valiosa que levamos para a época de 2021!”

“Se queremos lutar pelo campeonato, este passo para a equipa de fábrica era o que tínhamos que dar, a equipa de fábrica tem mais recursos, mais gente a trabalhar para a equipa, mais ferramentas, e é isso que eu preciso, de uma ajuda para tentar fazer um ataque o Campeonato!”

Logicamente, com a KTM em alta, já a testar em pista soluções para 2021 com Pedrosa e Kallio, e Miguel, um dos mais vencedores em 2020, um favorito a candidato a honras de Campeão em 2021, o MotoGP só pode estar, cada vez mais, no foco dos portugueses… Já era tempo!

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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alessandrohansenvargas
alessandrohansenvargas
4 anos atrás

Senhor Paulo Araújo, que bela reportagem!
Quem não se lembra do ataque final de Oliveira ao campeonato da Moto3 em 2015, ou o ataque final em 2017? Miguel é o nosso Mestre da estratégia, sempre vem forte no ano subsequente, como foi em 2018 quando disputou o título até o final!
Sem dúvida alguma que o nosso Falcão virá para o ataque em 2021 com as garras afiadas e os olhos certeiros na taça do mundo!
Aqui do Brasil, estaremos torcendo como nunca, pois somos todos o mesmo sangue! #BrasilcomMiguelOliveira

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