Moto2: Classe pura
É um cliché que muitas vezes é utilizado nestes momentos, mas a verdade é mesmo esta: não existem adjetivos para descrever a ponta final de temporada de Miguel Oliveira. Permitam-me a liberdade e alargo a mesma ideia à época de 2017.
Podemos desde logo pegar na estatística: Três vitórias, nove pódios, duas poles e três voltas mais rápidas em corrida sustentam a ideia acima referida, mas a ‘coisa’ não se resume só a números apesar destes serem muito importantes.
Tal como no ano de 2015, então em Moto3 mas representando a Red Bull KTM Ajo, Oliveira mostrou novamente o seu ‘fraquinho’ pelas últimas três rondas do campeonato (Austrália, Malásia e Valência) e de rajada garantiu três vitórias consecutivas tornando-se assim, em igualdade com Álex Márquez, no segundo piloto mais vitorioso em Moto2, na época que ontem acabou no circuito Ricardo Tormo.
Três vitórias que exibiram na perfeição todas as valências que têm de ser exigidas a um piloto de topo. Se em Phillip Island e Sepang, o piloto luso dominou as contendas não dando hipóteses à concorrência. Ontem as coisas foram diferentes. Foi um triunfo construído no saber, talento e perspicácia em explorar todo o potencial, que promete não ficar por aqui, da brilhante máquina que tem em mãos desde o início do ano. Como dizem os nossos amigos do país vizinho em relação a este tipo de conquistas, foi uma ‘vitória trabalhada’ e que de certeza tornou ainda mais saborosa a degustação do champanhe no pódio final.
O clímax deste exercício de rapidez e consistência levado a cabo por Miguel Oliveira deu-se na sublime ultrapassagem ao campeão do mundo, Franco Morbidelli, e que permitiu ao piloto português agarrar com unhas e dentes em definitivo o primeiro posto da corrida de Valência. Foi o ‘matar de um borrego’ que estava ‘entalado’ desde o GP da Alemanha, em Sachsenring, onde os dois pilotos travaram uma das mais belas batalhas da época, mas com o triunfo a cair então para o protegido de Valentino Rossi. O aviso no entanto estava dado e como diz o povo nestas coisas ‘quem avisa teu amigo é’ como pudemos atestar pelas declarações de ‘Morbi’ em pleno parque-fechado após a conclusão da corrida.
Costuma-se dizer nestas coisas rei morto, rei posto. Com Morbidelli de partida para a classe maior em 2018, quem sabe se esta ultrapassagem não foi a passagem de testemunho entre dois predestinados que foram as grandes figuras do Moto2 em 2017. Essa é uma questão que como acontece com tudo na vida só o tempo, esse grande juiz das atitudes, irá responder.
Para já é tempo de desfrutar deste privilégio de estarmos perante uma figura que deixará uma marca profunda na história do desporto nacional. Não é tempo para euforias desmedidas, mas como dizia o saudoso José Torres, seleccionador nacional de futebol aquando da fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de 1986, “deixem-me sonhar”.