MotoGP, história: Os anos de Umberto Masetti

Por a 2 Abril 2020 16:00

Terminamos a nossa série de crónicas revendo as carreiras dos grandes do passado com mais de um título na classe rainha com Umberto Masetti. Todos os Campeões têm alguma coisa que os torna únicos, para lá do facto de terem sido os melhores na sua época.

No caso de Umberto Masetti, nascido a 4 de Maio de 1926, em Borgo delle Rose, na província de Parma em Itália, é ter sido um pioneiro, como primeiro Campeão Mundial de 500 Italiano em 1950.

Masetti em Assen em 1952

Depois de um passado como amador, estreou-se no campeonato do mundo em 1949, pilotando uma Morini na classe de 125, acabando o ano terceiro. Como não era raro na altura, começou a sua carreira a fazer batota: como era preciso ter pelo menos 21 anos para correr, diz ter nascido em 1924 em vez de 1926.

Salientando-se logo pela sua garra, no mesmo ano foi também contratado pela Benelli para correr nas 250 e pela Gilera na classe rainha, as 500, tornando-se assim um dos poucos pilotos a correr nas três principais categorias no primeiro ano de profissionalização.

Muitas vezes caia, mas ficava sempre bem, mesmo quando, em Imola, caiu e deslizou duzentos metros, saltou contra um aterro, esmagou um cartaz, passou por cima da uma árvore e acabou nas águas do rio local, o que lhe deu fama de intocável.

Em 1950 tornou-se o primeiro italiano a vencer o campeonato do mundo de 500, com apenas 24 anos, graças às vitórias no Grande Prémio da Bélgica e da Holanda e um total de 28 pontos na classificação geral, apenas mais um do que o segundo lugar, o britânico Geoff Duke.

Masetti venceu o Mundial apesar de Geoff Duke vencer o TT da Ilha de Man, o GP do Ulster e o GP das Nações em Monza, onde Masetti marcou a volta mais rápida da corrida. Claro que no mesmo ano ganhou também o Campeonato Italiano.

Graças a este sucesso, Masetti tornou-se o primeiro “astro” do motociclismo. “Beautiful Umberto” é uma das alcunhas que lhe põem. Também o chamaram “O Contabilista” pela forma metódica e estratégica com que lidava com as corridas, ou “o Diabo”, muitos anos antes de Quartararo, porque é pequeno e magro, sempre vestido com um fato todo preto e, apesar da capacidade calculista de planear uma corrida, capaz de ser imprudente quando a ocasião assim o exige.

Globalmente na época, Masetti foi considerado um dos melhores pilotos do mundo: 200 corridas ganhas, eleito Atleta do Ano em 1951, uma medalha valor atlético e o título de Cavaleiro de Mérito Desportivo.

Para os amigos, é “Scarciola” (“rabisco”, em dialeto da região). Para a imprensa, “O Duque de Parma”, por contraste a Geoff Duke, que era “O Duque de Ferro”… e até há quem lhe chame Rato Mickey, pela efígie que usa pintada no capacete.

Ídolo da sua geração, Masetti também era um homem sempre sob a atenção dos media, tanto pelos seus feitos em pista e pelo seu amor pelo perigo, como pelos seus excessos na vida privada, após várias histórias com mulheres.

Em 1951, ainda a pilotar uma Gilera, venceu o Grande Prémio de Espanha inaugural, que decorreu no mesmo circuito onde os carros de Fórmula 1 corriam. No ano seguinte, em 1952, foi novamente bem sucedido graças às vitórias na Bélgica e na Holanda e 28 pontos na classificação, perfazendo o segundo dos seus títulos mundiais na classe rainha.

Apesar desse novo triunfo na classe rainha, Masetti preferiu despromover-se e passar para as 250 com a NSU, que considerava mais competitiva, mas uma lesão causada por uma queda em Imola só lhe permitiu competir no Grande Prémio das Nações, no qual ficou em sexto lugar.

Em 1954 regressou às 500 com a Gilera, mas mais uma vez só correu no Grande Prémio das Nações, no qual conquistou o segundo lugar atrás do velho rival Geoff Duke. No ano seguinte dividiu a temporada entre 500 (em que ficou em terceiro lugar na classificação geral, graças a 19 pontos resultantes de uma vitória, dois terceiros e um quarto lugar) e 250 (em que ficou em quarto lugar na tabela, com um segundo, um terceiro e um sexto lugar), desta vez montando um MV Agusta, uma equipa à qual se manteve fiel até 1958.

A partir de 1956, as suas aparições nos circuitos internacionais tornaram-se mais raras e em 1958, depois de correr privadamente na classe de 350, decidiu retirar-se como profissional. Porém, mudou de ideias alguns anos depois e em 1962 correu com uma Moto Morini nas 250, alcançando resultados dececionantes, pelo que no final da temporada anunciou a sua despedida, desta vez definitiva, das corridas.

Dois títulos mundiais não foram suficientes para enriquecer. Nessa altura, o motociclismo providenciava rendimentos ridículos em comparação com os de agora. Em 1950, quando ganhou o primeiro mundial, Masetti recebia um salário de 50 mil liras por mês, cerca de 12 Euros agora, equivalente ao salário de um trabalhador. Pelos louros do mundial, a Gilera deu-lhe um milhão – qualquer coisa como 4.000 Euros hoje. Masetti foi à FIAT, comprou um Fiat 1400 e ficou com pouco ou nada no bolso. Teria de trabalhar toda a sua vida, e era vulgar encontrá-lo a atender num posto de gasolina na Autostrada del Sole.

Depois de se mudar para Maranello, regressou ao motociclismo em 1997, desta vez como executivo da Aprilia. Nos últimos anos da sua vida foi diretor da “Associação Italiana para a História do Automóvel” juntamente com outra velha glória do motociclismo italiano, Nello Pagani.

Masetti era também uma presença assídua em encontros de clássicas e corridas com motos vintage. Em Maio de 2005, a cidade espanhola de Denia, perto de Valencia onde se realiza o “Festival de Motos Históricas”, dedicou ao italiano uma estátua dele a andar na sua Gilera.

Morreu aos 80 anos, em sua casa a 29 de Maio de 2006, devido a complicações do sistema respiratório.

 

 

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