MotoGP, 2021: Quem é Jorge Martin?

Por a 8 Abril 2021 12:30

Espanha é o fulcro da competição em duas rodas e já deixámos de nos admirar com o talento que produz… mas mesmo assim, de quando em quando, aparece um piloto verdadeiramente excecional, como o Madrileno Jorge Martin

O Jorge só teve a oportunidade de andar numa MotoGP em Losail, por isso acho que é melhor esperarmos até irmos a outro lugar para ver o que acontece” Francesco Guidotti, Pramac

Jorge Martin conseguiu a pole position na sua segunda corrida de MotoGP há dias em Doha… O último piloto a fazer isso antes dele foi Marc Márquez, por isso, será Martin o próximo Márquez?

Com os seis títulos de MotoGP de Márquez, pode ser cedo para fazer comparações com Jorge Martin, mas o seu talento continua a ser impressionante…

Andar numa moto moderna de MotoGP não é fácil: não só é preciso bater os melhores pilotos do mundo, como também é preciso ser capaz de pensar com calma e rapidez enquanto te deslocas a 98 metros por segundo, atento ao teu ponto de travagem, polegares no interruptor de mudanças de mapas e selecionando diferentes ajustes para entrega de binário, travagem motor e anti-derrapagem, controlo de tração, etc. Há muita coisa a acontecer.

Martin provou no fim de semana passado que tem a largura de banda mental para fazer tudo isso e liderar os melhores pilotos do mundo.

Ele pode achar as próximas pistas, como Portimão, Jerez, Mugello e assim por diante, mais desafiantes do que Losail, que favorece a Ducati, mas não há dúvida de que o rookie da Pramac tem um enorme talento.

Martin é outro produto da linha de produção da KTM Red Bull, mas não lhe foi dado o tratamento rápido como Brad Binder e Miguel Oliveira, que vestiram o laranja dos Red Bull Rookies para seguir em Moto3, Moto2 e MotoGP.

Martin venceu a Taça dos Rookies em 2014, batendo Joan Mir para o segundo lugar, e depois passou as suas duas primeiras temporadas de GP a bordo da Mahindra, como colega de um certo Bagnaia e com Guevara também na formação, ironicamente usando o Nº88 que teria de vir a mudar para 89 na MotoGP por estar já ocupado por um certo Oliveira…

Obviamente, os pilotos odeiam andar em motos pouco competitivas, mas uma moto lenta pode fazer maravilhas pelo teu espírito de luta e capacidade de travagem tardia. O mesmo se passou com Oliveira em 2013, quando deu a primeira pole à marca indiana, e 2014.

Apesar da falta de resultados de Martin na Mahindra, com um melhor de 7º em Aragón, e um primeiro pódio em 2º no ano seguinte em Brno, as suas capacidades eram óbvias para o falecido campeão do mundo de 125cc, Fausto Gresini, que o colocou numa Honda de Moto3 da sua equipa DelConca em 2017.

Martin conseguiu a sua primeira vitória no GP de Valência e dominou 2018, com mais sete vitórias pelo caminho.

A KTM Red Bull contratou-o de volta em 2019, para a sua equipa de Moto2, mas o chassis da KTM de 2019 era pouco competitivo, pelo que não venceu uma corrida.

No ano passado, teve uma boa oportunidade de atacar o título, até apanhar Covid-19 e ter de faltar a algumas rondas… e logo a seguir assinou pela Ducati.

O ex-jornalista e chefe de equipa Peter Clifford organiza a série Red Bull Rookies e lembra-se bem de Martin.

“Quando ele esteve connosco, era muito sério e muito empenhado”, diz Clifford. “Ele era um daqueles pilotos que obviamente tem talento, mas se eu tivesse de escolher entre o seu talento bruto ou o seu empenho em usar esse talento, diria que o segundo era a sua maior força.”

“Obviamente tem muito talento, mas também tira o melhor de si, da moto e da situação e trabalha muito. Com essa atitude, Jorge podia sempre recuperar de dificuldades. Sempre conseguiu manter tudo unido, era muito maduro, mesmo naquela época. Com outros pilotos é tudo talento, nem sabem porque funciona, mas funciona.”

“A outra coisa era que era óbvio que a família não era rica e que se o Jorge não estivesse a correr nos Rookies provavelmente não iria correr, pelo menos não numa moto competitiva. Foi maravilhoso tê-lo nos Rookies. Para mim é disso que se trata nos Rookies dar uma oportunidade aos pilotos que de outra forma não teriam hipótese.”

O talento de Martin também era óbvio para os compatriotas Maverick Viñales e Aleix Espargaró, que tomaram o jovem sob as suas asas.

“O Maverick e o Aleix iam buscar-me, levavam-me para a pista e deixavam-me usar as suas motos de treino“, disse Martin no Qatar no fim de semana passado. “Não tinha dinheiro para comprar uma moto de treino, por isso tive sorte de me emprestarem as deles.”

Martin foi incrível de ver no fim de semana passado, levando as inclinações a novos extremos, com os cotovelos e ombros raspando o asfalto durante a qualificação. Isso não foi uma cavalgada maluca. É simples física, porque quanto mais se desloca peso para o interior da curva, mais se minimiza o efeito centrífugo para ajudar a moto a virar. Sem dúvida que é uma técnica útil com a difícil de virar Desmosedici.

Francesco Guidotti, team manager da Pramac, disse logo que se soube que contratar Martin seria um sonho e está tão impressionado como qualquer um, mas alerta para o potencial de Martin.

Afinal, Losail sempre ajudou os novatos a brilhar. Em 2006, Casey Stoner conquistou a pole lá para a sua segunda corrida na classe rainha e dois anos depois Jorge Lorenzo e James Toseland qualificaram-se mais rápido e segundo mais rápido nas suas estreias no MotoGP.

“Losail é um circuito da Ducati, onde a Ducati se apresenta bem todos os anos, por isso acho que estaríamos a cometer um erro ao atribuir demasiado aos dados deste circuito”, disse Guidotti no domingo à noite.

“O Jorge só teve a oportunidade de andar numa MotoGP em Losail. Os testes de pré-época foram aqui e as duas primeiras corridas foram aqui, por isso acho que é melhor esperarmos até irmos a outro lugar para ver o que acontece lá.”

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mitoswrc
mitoswrc
3 anos atrás

Sr.Paulo Araújo, peço-lhe que dê crédito a quem o merece. O texto original pertence ao veterano jornalista Mat Oxley. Cumprimentos

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