MotoGP, história: Os anos de Phil Read

Por a 26 Março 2020 15:59

Phillip William Read, nascido a 1 de Janeiro de 1939, e portanto com 81 anos agora, é um piloto inglês de motociclismo dos mais titulados na MotoGP, pois detém 8 títulos Mundiais. Apesar de ter sido muitas vezes ofuscado pelo seu contemporâneo, Mike Hailwood, tornou-se o primeiro a vencer campeonatos mundiais nas classes de 125 , 250 e 500.

Nascido em Luton, um pouco a norte de Londres no Condado de Bedfordshire, Read era um aficionado das motos e trabalhou como aprendiz na Brown and Green, um fabricante de maquinaria industrial. A sua primeira máquina de estrada foi uma Velocette KSS que começou a usar com a idade mínima legal do Reino Unido aos 16 anos em 1955, seguida por um BSA Gold Star DBD32.

Depois, começou a correr em 1958 numa BSA Gold Star. Em 1960 venceu o Grande Prémio Júnior Manx num Manx Norton a uma velocidade recorde, seguido da corrida TT Junior (350cc) em 1961. Pilotando uma Norton Manx, ficou em segundo lugar nas corridas de 350 e 500 no North West 200 de 1961 na Irlanda do Norte.

Foi duas vezes vencedor da corrida de resistência das 500 Milhas de Thruxton em 1962 e 1963, pilotando as Norton Dominator 650SS de Syd Lawton.

Em 1963, Read foi temporariamente convocado para preencher a ausência de Derek Minter na equipa de Grande Prémio Gilera Scuderia Duke, (de Geoff Duke, o dos vídeos da Ilha de Man) uma vez que Minter tinha sido gravemente ferido num acidente em Maio em Brands Hatch.

Ao disputar a corrida Senior TT da Ilha de Man em Junho, a equipa reivindicou 2º com John Hartle e 3º com Read atrás da MV de Mike Hailwood. A seguir, no TT Holandês em Assen, Read foi 2º na classe de 500, pois Hartle ganhou e Mike Hailwood desistiu com uma avaria. Read foi de novo segundo atrás de Hailwood na corrida de 500 da Bélgica, mas depois Minter regressou e, de qualquer modo, a equipa de Grande Prémio da Gilera foi dissolvida no final de 1963, com a marca em dificuldades financeiras que levariam à sua falência pouco depois.

Em meados da década de 1960, a Yamaha teve prolíficos pilotos em Read, e no canadiano Mike Duff (que mudou de sexo posteriormente e hoje é Michelle) e mais tarde com Bill Ivy. Em 1964, Read deu à Yamaha o seu primeiro título mundial quando ganhou o Mundial da classe de 250. Repetiria como campeão no ano seguinte.

Em 1966, a Yamaha introduziu uma nova moto de 4 cilindros de 250, mas problemas de juventude com o novo motor fizeram-no perder a coroa para Hailwood. Em 1967, iria defrontar Hailwood na Honda de seis cilindros até à fase final. Acabariam empatados em pontos, mas Hailwood levou a coroa por ter cinco vitórias para as quatro de Read. Em 1967, Read, sempre um defensor da segurança dos pilotos, também assumiu o cargo de representante da Associação de Pilotos de Grande Prémio. De facto, a minha primeira memória pessoal dele é ter-me dado um enorme raspanete quando me viu chegar ao paddock de Brands Hatch com o pneu da frente da minha BMW um pouco gasto…

A temporada de 1968 revelou-se controversa para Read. A fábrica da Yamaha queria que Read se concentrasse em ganhar o título de 125 e escolheu o seu companheiro de equipa Bill Ivy para conquistar a coroa de 250. Depois de ganhar o campeonato de 125, Read decidiu desobedecer às ordens da equipa e lutar com Ivy pelo título de 250. Terminaram a época empatados nos pontos e Read foi premiado com o campeonato com base nos tempos. Foi uma decisão dispendiosa, pois a seguir Ivy morreu num acidente, nunca tendo a hipótese de se tornar Campeão, e a Yamaha nunca mais ofereceria outro lugar a Read na equipa oficial.

Read também se envolveu como consultor de desenvolvimento, pois as motos de origem da época tinham sempre problemas de motor, quadro ou suspensão, e colaborou com a Metisse e a Rickman a desenvolver um quadro com tubo Reynolds construído por Ken Sprayson.

Depois de ter ficado fora a maior parte das temporadas de Grande Prémio de 1969 e 1970, quando as principais fábricas japonesas se retiraram dos Grands Prix, concentrou-se nos principais encontros internacionais britânicos e europeus, onde como Campeão convidado ganhava muito dinheiro. Era vulgar chegar na sua própria avioneta aos circuitos, e o seu camião foi precursor dos patrocínios modernos, ostentando a sigla “Castrol Read Team” em grandes letras.

Read regressou a tempo inteiro ao circuito de Grand Prix em 1971 numa Yamaha de competição-cliente muito especial, desenvolvida sob a direção do holandês Ferry Brouwer, posteriormente importador da Arai.

A moto tinha potência melhorada graças aos escapes de Brouwer, travões de disco duplos Lockheed, e aerodinâmica melhorada, e fora desenvolvida com a ajuda de Eric Cheney no quadro, do piloto de sidecars Helmut Fath numa embraiagem seca e de Rod Quaife com uma transmissão de seis velocidades, mas sem apoio de fábrica. Nessa moto conseguiu vencer os três primeiros Grandes Prémios da temporada e conquistou o seu quinto título mundial.

Em 1972 Read aceitou uma oferta para correr para a equipa de fábrica da MV Agusta no Campeonato do Mundo de 350. Em 1973, pilotando nas classes de 350 e 500, conquistou o título de 500, o primeiro Campeonato do Mundo ganho usando travões de disco Lockheed. Defendeu com sucesso a sua coroa em 1974, naquele que seria o último campeonato mundial para a lendária marca italiana. Seria também a última vez que uma máquina de quatro tempos ganharia um título até ao advento da classe de MotoGP em 2002.

Read também teve lugares de piloto “convidado” como parte da equipa Norton JPS em 1972, terminando em quarto nas 200 milhas de Daytona. Na MV, deu à Yamaha de Agostini uma forte luta pelo campeonato de 500 em 1975, mas terminou em segundo lugar.

Apercebendo-se de que as máquinas de quatro tempos já não eram competitivas, deixou a empresa italiana para fazer campanha com uma Suzuki RG500 privada na temporada de 1976, e depois, já com 37 anos, retirou-se das corridas de Grande Prémio.

Read na Honda Bol d’Or

Read ainda entrou em provas do TT da Ilha de Man a partir de 1977, vencendo a corrida de Fórmula 1 TT nas Honda CB750 SOHC oficial e a corrida Senior na Suzuki. Novamente na Honda F1 para 1978, teve uma desistência mas foi 4º no Senior Clássico. Estas corridas levaram a Honda a produzir uma edição limitada de 150 motos ‘Phil Read Replica’ baseadas na CB750F2 com acessórios Seeley nas cores da Honda Britain de azul e vermelho.

Ainda competiu no TT de 1978 contra Mike Hailwood, que fez um famoso regresso montando uma Ducati 900SS da Sports Motorcycles de Manchester. A última corrida de Read foi na Ilha de Man TT em 1982, aos 43 anos. A FIM nomeou-o uma “Lenda” de Grande Prémio em 2002.

Um aspeto menos conhecido da carreira de Read foi o seu envolvimento em corridas de Resistência. Nestas, montou um Honda oficial na corrida de 24 horas do Bol d’Or em Le Mans, e foi duas vezes vencedor da corrida de resistência Thruxton 500 em 1962 e 1963.

Em 1967, Read residia no paraíso fiscal da Ilha de Guernsey, onde tinha um negócio de venda de barcos, e durante o período a partir de de 1970, começou a distribuir a sua marca d capacetes Premier e deu o seu nome a uma gama de roupas de motocicleta, incluindo a comercialização de um capacete integral ‘Phil Read Replica’ com o conhecido esquema de preto com três tiras brancas e xadrez à volta da queixeira. Read também abriu um concessionário Honda em Surrey e mais tarde em Leytonstone, no Leste de Londres, em 1979.

Nos anos 80, apoiou os filhos Graham e Roki em carreiras na competição que nunca passaram da fase inicial.

Hoje Phil Read, condecorado com a Medalha do Império M.B.E. vive em Canterbury Kent, passando os verões visitando pistas de corrida em toda a Europa e demonstrando algumas das motos da sua carreira de piloto. Ainda há pouco esteve em Portugal.

Após a morte de John Surtees em 10 de Março de 2017, Read é agora o mais velho campeão do mundo de 500cc/MotoGP.

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