Ensaio Husqvarna Vitpilen 401 – Inspirada no passado, projectada para o futuro
A Husqvarna é uma marca antiga, nascida no Séc. XVII e ligada, como tantas outras, a diferentes sectores da indústria que, no caso da da Husqvarna, a empresa produzia então armas. Depois vieram outros produtos como máquinas de costura e motoserras, sendo que a primeira moto apareceu apenas no início do Séc. XX.
Em 1955 a Husqvarna decide lançar um novo modelo, a Silverpilen, que faria história e marcaria definitivamente o futuro da marca sueca . A Silverpilen, nome que homenageava o famoso e icónico carro da Mercedes, o Silver Arrow, foi das primeiras motos com suspensões telescópicas e amortecedores hidráulicos que com um peso de cerca de apenas 75 Kg e motor suspenso e estruturante do quadro, fazia as delícias dos jovens de então que pretendiam evidenciar-se no todo terreno com a sofisticação técnica do novo modelo da Husqvarna. Final dos anos 50 e início dos 60 a Husqvarna conquistava vários títulos mundiais no Motocross e no Todo-o-Terreno nomeadamente com o piloto Rolf Tibblin nas provas de Motocross des Nations e Baja 1000. Em meados dos anos 60 já a Husqvarna tinha vendido mais de 11.000 Silverpilen afirmando-se no segmento das motos de baixa cilindrada.
Início dos anos 80 a Husqvarna lançou a sua primeira moto a 4 tempos de Enduro de 500cc e foi protagonista do início de uma nova era na competição Off-Road com motos a 4 tempos. Seguiram-se tempos de declínio, sobretudo financeiro tendo a marca sido vendida à Cagiva em 87 e depois á BMW em 2007 e mais tarde recuperada pela Pierer Industries proprietária da Husaberg e que detém a maioria do capital da KTM.
Mais de 60 anos depois da primeira “Pilen” ser lançada no mercado, a Husqvarna decide recuperar esse legado histórico e novamente criar motos com cariz inovador, que despertem emoção e que estabeleçam novos conceitos e referências. As novas Vitpilen e Svartpilen foram apresentadas pela primeira vez em 2014 e desde então tem sido criada uma enorme expectativa no mercado quanto ao seu lançamento.
Finalmente este ano os 3 modelos estarão disponíveis, a Vitpilen 401 e 701 e a Scrambler Svartpilen 401 e relativamente ao seu desenvolvimento, Maxime Thouvenin, Senior Designer responsável pelo segmento de Street Bikes, afirmou que “ O objectivo com as novas Vitpilen e Svartpilen é o de captar a essência do passado, mas fazê-lo da forma mais moderna e progressiva possível”. Acrescentou ainda que “ o design é muito característico da Escandinávia e da Suécia, com uma abordagem minimalista e funcional “.
A Vitpilen e Svartpilen 401 utilizam basicamente a mesma plataforma e a motorização é a mesma utilizada na KTM Duke 390 com mapas de motor distintos . Enquanto que a Svartpilen monta pneus Pirelli com piso mais apropriado para uma moto do tipo Scrambler, a Vitpilen monta uns excelentes Metzeler M5 que se revelaram adequados para o estilo de condução desta última, podemos definir como uma Café Racer do futuro.
Depois de termos assistido finalmente à sua última apresentação no último Salão EICMA 2017 de Milão, lembramos que foi apresentada pela primeira vez um protótipo em 2014, ficámos na expectativa da mesma chegar a Portugal e estar disponível para a ensaiarmos. Foi assim que, cheios de curiosidade e depois de quase 3 anos de espera, nos dirigimos à Jetmar, representante Husqvarna e KTM em Portugal, para vivermos uma experiência há muito aguardada.
O design da moto e as suas linhas é obviamente aquilo que mais impacta de início, e digamos que poderá não ser consensual, sobretudo tendo em conta as actuais tendências revivalistas de motos de linhas clássicas dentro dos conceitos das Café Racers e Scramblers, a exemplo daquilo que tem vindo a ser adoptado pelo mercado e pelas marcas.
A impressão de ser uma moto pequena e de concebida de acordo com um conceito minimalista é evidente, realidade que é equilibrada pelo vanguardismo das suas linhas. Antes de conhecermos dinamicamente a Vitpilen fizemos questão de não levar informação que nos criasse expectativas ou seja a única expectativa que criámos era aquela que provinha do impacto visual da mesma e de algumas características que conhecíamos através da própria Husqvarna. Assim a nossa análise e reação seria o mais isenta possível.
A subirmos pela primeira vez na Vitpilen e agarrarmo-nos aos seus avanços, montados directamente na suspensão dianteira, imediatamente percebemos que teríamos de acionar um novo “chip” que para melhor interpretar a sua condução nos 3 dias que se seguiram. A primeira sensação foi a de montarmos numa moto de pista, quer pela posição quer pela própria altura do banco, que diga-se que não pode ser considerado confortável e mesmo impróprio para longas tiradas. Uma vez sintonizados na tipologia “Racer” tudo passou a fazer mais sentido e a Vitpilen começou a mostrar o seu verdadeiro DNA, aquele que a Husqvarna pretendia recuperar de uma moto minimalista mas suficientemente sofisticada para despertar novas emoções.
A posição, como já referimos, pelo facto de montar “avanços ao garfo” obriga a uma postura que sobrecarrega o nosso peso sobre os pulsos , resultado : em percursos urbanos e no pára-arranca torna-se realmente cansativo, sobretudo se rodarmos em piso em mau estado pois a firmeza das suspensões WP, embora bastante eficientes, tendem a aumentar ainda mais a pressão sobre os nossos pulsos e mãos. Mas esta realidade é largamente compensada quando nos “fazemos à estrada”. Aí a Vitpilen é raínha e o peso termina totalmente aliviado pelo vento que nos empurra para trás.
O motor é fantástico, de uma enorme elasticidade e binário desde baixa rotação. A certa altura percebi, ou pelo menos foi essa a sensação que tive, que esta Husqvarna poderia ser uma espécie de moto de enduro transformada para moto de pista, ( muitos anos de enduros faz com que seja inevitável a comparação ) tal era a combinação de sinais e sensações que nos transmitia a pilotagem da Vitpilen. Pelo seu peso reduzido, pela posição de condução elevada e sobre os avanços, pela resposta imediata do seu motor e o som da ponteira Akrapovic, pela eficiência das suas suspensões e travões, mais parecia que estava numa moto de pista, certamente muito próxima de uma KTM RC390. Em auto-estrada cheguei facilmente aos 170 Kmh, em 6 velocidade, sem que a luz avisadora de rotação máxima tivesse acendido, ou seja, ainda tinha algo mais para evoluir.
O quadro em trelissa de aço de cromo-molibdénio e o motor montado como parte estruturante do mesmo garantem toda a rigidez necessária do conjunto que, combinada com uma ciclística de luxo e um excelente comportamento das suspensões WP, mantêm a Vitpilen sempre estável em curva e garantem um contacto extremo com a estrada. A travagem revela imenso tacto e mordida, e é realizada por pinças Bybre, 2ª marca da Brembo fabricada na Índia, garantindo sempre uma sensação de enorme segurança e controle.
Curvar na Vitpilen é sempre um enorme prazer e esse digamos que é, para além do estilo alternativo do seu design, o atributo máximo desta Café Racer futurista. Mas se o objectivo é mais uma utilização diária aí talvez recomendemos mais a sua irmã Svartpilen, mais ao estilo Scrambler e com uma posição de condução mais elevada e certamente mais confortável.
Rodas com aros de alumínio de 17” montam pneus desportivos da Metzeler de 110/70 na dianteira e 150/60 na traseira, assegurando um comportamento em curva irrepreensível e sempre previsivel.
Os acabamentos embora dentro do espírito minimalista são de facto de extrema qualidade. Pormenores no desenho do seu depósito ou mesmo do próprio tampão demonstram claramente o cuidado e o pormenor de como foi concebida a Vitpilen. O farol redondo na frente de tecnologia LED é uma perfeita simbiose do clássico com a linhas vanguardistas da Vitpilen. O farol traseiro está também perfeitamente integrado numa traseira curta e segue as linhas da mesma. O painel de informação redondo e numa posição quase plana é algo estranho mas contém toda a informação necessária inclusivamente nível de combustível e LED avisador de rotação máxima.
Claro que toda esta sofisticação “comes with a price” e aí a Vitpilen afirma claramente a sua “exclusividade” pois os seus 7.375 eur de pvp definem sem margem para dúvida o seu posicionamento de mercado, mais cara 1.400 eur que uma KTM Duke ou uma RC390.
No final penso que a Husqvarna acertou em cheio no posicionamento das suas novas Street Bikes estabelecendo uma classe podemos classificar de “à parte”, já que de repente não existem para já no mercado motos com do mesmo segmento e de estética tão arrojada.
Ficha Técnica
Marca: Husqvarna | Modelo: Vitpilen 401 2018 |
MOTOR | |
Tipo | monocilindro, refrigeração líquida, 4 tempos |
Cilindrada | 373.2 cc |
Potência Máx. | 44 hp @ 9.000 rpm |
Binário Máx. | 37 Nm@ 7.000 rpm |
Taxa de compressão | 12.6:1 |
Embraiagem | PASC, deslisante, acionada mecânicamente |
Alimentação | Injecção electrónica |
Caixa Vel | 6 Velocidades |
CHASSI E SUSPENSÕES | |
Quadro | Treliça em aço |
Suspensão Dianteira | WP invertida de 43mmcurso 142mm |
Suspensão Traseira | Monoamortecedor ajustável WP curso 150mm |
TRAVÕES E PNEUS | |
Travões Dianteiros | Disco de 320mm com ABS Bosch de 2 Canais |
Travões Traseiros | Disco de 230mm com ABS Bosch de 2 Canais |
Pneu Dianteiro | 110/70-17 |
Pneu Traseiro | 150/60-17 |
ELETRÓNICA E ELETRICIDADE | |
Bateria | 12 V, BAH VRLA |
Luzes Dianteiras | Full LED |
Luzes Traseira | Full LED |
Painel Info | digital redondo |
Controle Tração | não |
Ride by Wire | sim |
Modos de Motor | não |
Outros | |
DIMENSÕES | |
Comprimento | n.d. mm |
Largura | n.d. mm |
Altura | n.d. mm |
Distância entre Eixos | 1.357mm |
Distância ao solo | 170mm |
Altura do banco | 835mm |
Peso total | 148 Kg |
Capacidade do Depósito | 9.5 litros |
Reserva | n.d. |
Consumos | n.d. |
Norma Emissões | Euro 4 |
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