MotoGP: Ángel Nieto, o adeus de um impulsionador
O dia 3 de agosto de 2017 tinha tudo para ser mais um tranquilo dia de verão no panorama motociclístico. O Mundial de MotoGP preparado para o seu regresso, em Brno (República Checa) após a pausa de verão ao mesmo tempo numa unidade hospitalar, em Ibiza, o campeoníssimo Ángel Nieto prosseguia paulatinamente a sua recuperação após uma violenta colisão na passada semana com um automóvel, enquanto estava aos comandos de um quadriciclo e que originou um grave traumatismo cranioencefálico.
Porém quando Nieto estava em pleno processo de despertar do coma induzido surgiu durante a madrugada de quarta para quinta feira um maldito edema cerebral, que no final do dia conduziu ao trágico desaparecimento do ’12+1′ vezes campeão do mundo, como este espanhol de 70 anos gostava de ser carinhosamente e supersticiosamente reconhecido.
Com 13 títulos mundiais conquistados, divididos pelas categorias de 50cc (seis) e 125cc (sete), Ángel Nieto Roldán nascido no dia 25 de janeiro de 1947 em Zamora, mas criado nos arredores de Madrid, desempenhou um papel primordial no motociclismo do país vizinho. Foi o Anjo que desceu à Terra e impulsionou a disciplina em Espanha dando lhe projecção mediática em pleno período da terrível ditadura de Franco. Foi o ‘rei das motos de baixa cilindrada’ e mais importante do que isso abriu as portas para aquilo que hoje em dia são figuras como Marc Márquez, Jorge Lorenzo ou no passado foram nomes como Sito Pons ou Álex Crivillé.
Não é por acaso que muitos espanhóis, estes de forma obrigatória, e até mesmo muitos portugueses que hoje em dia situam-se entre os 50 e 60 anos de idade têm em Angel Nieto a sua grande referência quando se fala de ídolos no motociclismo. Vibraram com as suas vitórias e títulos atrás títulos tal como hoje em dia Valentino Rossi é idolatrado por milhões.
Conquistas que Ángel Nieto foi sempre alcançando com um enorme sorriso na cara, sem nunca perder as raízes humildes e a paixão pela modalidade que deu a Nieto tudo na vida e a quem este deu tudo em nome do seu país. Primeiro como piloto e mais tarde como comentador. Pelo meio era também marca de água, e como era próprio na década de 60 e 70, o enorme prazer pelas ‘coisas boas da vida’, imagem que manteve até ao último suspiro em Ibiza, local onde vivia durante largos períodos.
Desapareceu fisicamente ontem ao final da tarde, mas como diz Luís Vaz de Camões em “Os Lusíadas” estamos perante uma figura que pertence ao restrito grupo daqueles que por “obras valorosas se vão da lei da morte libertando”.