Gonçalo Reis: “Terminar o Dakar gera um sentimento muito forte”
Aos 30 anos Gonçalo Reis participou pela primeira vez no Dakar cumprindo um “sonho de criança”. O piloto do Magoito com carreira feita no enduro, conquistou o título europeu em 2010, estreou-se na maior prova de todo-o-terreno do mundo com a KTM Portugal/Jetmar, conjunto que representa há muito, e que endereçou o convite para esta grande aventura. No final de 15 intensos dias de competição, o piloto português fechou a corrida num positivo 26º lugar, segundo da classe Maratona, e quarto entre os estreantes. Um bom cartão de visita num dos mais duros eventos do desporto motorizado mundial.
Apesar do bom desempenho, o ambicioso piloto português queria mais na chegada a Buenos Aires. “No início da corrida não estava à espera de um resultado tão bom, mas depois com o decorrer da prova comecei a perceber que podia estar mais à frente pelo que esperava um pouco mais em termos de resultado final. No entanto enfrentei diversos contratempos e não foi possível fazer melhor”.
Pese embora esta situação Gonçalo Reis não esconde que alcançar a capital argentina deixou o “sentimento de dever cumprido” numa prova que desconhecia por completo. “No pódio lembrei-me de todo o esforço físico, mental, e da busca de patrocinadores para que fosse possível estar presente no Dakar. É um sentimento muito forte e que mexe connosco”, confessou Reis ao MotoSport.
Porém nem tudo foi fácil para o piloto do Magoito durante os 15 dias de competição. Dois momentos em particular colocaram à prova toda a resiliência de Gonçalo Reis, que nunca se deixou abater. “Durante um dia tive problemas com a altitude, mas depois tomei um comprimido e tudo passou. Esse acabou mesmo por ser um dia drástico porque caí muitas posições na classificação geral. Depois o meu maior problema foi quando fui abalroado por um piloto. Estive no hospital até às três da manhã. No outro dia parti para a etapa cheio de dores e com um problema num rim”. Isto apesar do organizador da prova, a Amaury Sport Organisation, não estar de acordo. “Tive de assinar um termo de responsabilidade devido a problema que tinha num rim. Não estou arrependido por ter tomado essa decisão porque sabia que não tinha nada e os exames vieram a confirmar esse facto. Tinha dores, mas isso aguenta-se. Desistir é uma palavra à qual o meu dicionário não está habituado”, afirmou com toda a convicção Gonçalo Reis.
Habituado a outro tipo de disciplina que não inclui o fator da navegação, Reis não se mostrou incomodado com este aspecto tão importante num rali raid. “A navegação não me assusta nada. Só tenho de aprender a navegar melhor em rios secos. Durante a corrida não falhei nenhuma nota nem um waypoint. Só numa etapa é que estive uma hora para encontrar um ‘waypoint’, mas consegui arranjar uma solução para este problema ao contrário de outros pilotos. Estou muito contente com o meu trabalho de navegação”, referiu orgulhoso.
Com o objetivo claro de lutar pelas primeiras posições do Dakar dentro de quatro anos, o piloto luso considera que em 2017 foi dado o primeiro passo para atingir essa ambiciosa meta. “É sempre importante terminar a primeira participação. Antes de partir para o Dakar disse que dentro de quatro anos queria estar a lutar pela vitória e continuo com essa mentalidade. Para já não quero ser piloto de nenhuma equipa oficial isto porque ainda tenho muito a aprender. O Dakar é muito prova muito longa, de resistência e onde o factor é sorte é importante. Quero continuar neste processo de aprendizagem para que quando estiver em condições de ganhar nada falhe. Agora é tempo de cometer alguns erros e limar algumas arestas. Dentro de quatro anos estarei preparado para atacar ao máximo e consequentemente andar na frente da corrida”.
Regressado a Portugal com a missão cumprida, o piloto da KTM Portugal/Jetmar aponta já baterias para o regresso ao enduro, que tem no próximo fim de semana em Góis o início de mais um Nacional, mas sem nunca descurar a preparação do próximo Dakar. “Quando podia estar em casa a descansar já estou a trabalhar na minha presença no Campeonato Nacional de Enduro. Esta é a minha vida e amo aquilo que faço. Esta época vou fazer o nacional, algumas provas de todo-o-terreno, e trabalhar ao máximo o capítulo da altitude, porque como todos sabem o Dakar tem muita altitude”. Numa fase da sua carreira em que alterna o enduro e os rali raids, Gonçalo Reis considera que está a “conseguir complementar estas duas disciplinas. Não é difícil mudar a mentalidade para o enduro porque já faço isto há 11 anos. Difícil é mudar o chip para os rali raids”.