A lição do Doutor
Num fim-de-semana marcado pela trágica perda de Luis Salom, Valentino Rossi deu a volta a uma situação complicada para bater Marc Márquez após um duelo notável na Catalunha. Os dois rivais fizeram as pazes fora de pista e ainda aproveitaram mais um momento kamikaze de Andrea Iannone que eliminou Jorge Lorenzo…
Qualquer piloto que compete numa das três classes do Campeonato do Mundo de MotoGP teve de conter as emoções ao participar na corrida do passado domingo. Cerca de 48 horas antes, um dos seus companheiros de profissão tinha perdido a vida após uma queda na Curva 12 e a memória de Luis Salom esteve certamente presente no subconsciente de cada um. A classe-rainha não foi excepção mas a tragédia de sexta-feira teve repercussões inesperadas, já que a mudança de traçado para a versão da Fórmula 1 – para evitar aquela curva – parecia ter favorecido a Honda em detrimento da rival Yamaha.
Depois de ter sentido dificuldades pouco habituais nos dois treinos livres de sexta-feira (7º e 9º), Marc Márquez ‘voltou’ à vida com o novo sector 4 composto por uma chicane, fazendo uma exibição fabulosa na qualificação. Jorge Lorenzo ficou a 0,467s do seu compatriota no 2º lugar e o 3º mais rápido, Dani Pedrosa, ficou a uns expressivos 0,718s com uma moto idêntica. Ainda mais atrás, Valentino Rossi não ia além do 5º posto também a mais de sete décimos de Márquez, o que conferia ao piloto catalão o estatuto de grande favorito na sua corrida de ‘casa’.
Só que, como tantas vezes no passado, Valentino Rossi e a sua equipa técnica na Yamaha – liderada por Silvano Galbusera e com os mecânicos que acompanham Rossi desde os tempos da Honda – encontraram uma forma de tornar a M1 mais competitiva para domingo, com o italiano a revelar no final que alterou a distribuição de pesos para tentar encontrar maior grip na frente (a pensar sobretudo na chicane). Rossi surgiu muito forte no warm up e depois confirmou essas melhorias numa corrida notável mas onde nem arrancou particularmente bem.
Rossi-Márquez a fazer lembrar Rossi-Lorenzo
Enquanto Rossi ia subindo no pelotão, Lorenzo, Márquez e Pedrosa ganharam uma ligeira vantagem até o italiano se juntar ao trio, passando um por um. Enquanto Il Dottore prosperava, Lorenzo começava a revelar sérias dificuldades e começou a descer posições até ser ultrapassado inclusive por Maverick Viñales, após um duelo no limite com o jovem piloto da Suzuki. Mas o que Lorenzo não contava era com mais uma manobra inqualificável de Iannone (ler em separado), sendo obrigado a ceder o comando do Mundial numa corrida onde já só queria minimizar as perdas para Márquez e Rossi.
Pedrosa também não revelou capacidade para acompanhar Rossi e Márquez, que rodaram juntos até começar o emocionante duelo entre ambos, a fazer lembrar a épica batalha entre Rossi e Lorenzo na Catalunha em 2009. Nas últimas seis voltas, Márquez fez de tudo para superar o seu rival mas Rossi nunca cedeu terreno, mesmo depois de ultrapassado, voltando a assumir o comando na penúltima volta. As duas últimas voltas do italiano foram uma estocada decisiva em Márquez, que teve mesmo de se vergar perante a superioridade do binómio Rossi-M1 mas que, uma vez mais, fez autênticos milagres com uma Honda muito difícil de pilotar, chegando a salvar uma queda com o cotovelo e o joelho na chicane.
Foi a segunda vitória da época para Rossi (depois de Jerez) e a 114ª na carreira de Il Dottore no Mundial, estando agora a 22 pontos do novo líder do campeonato, Márquez. Também Pedrosa regressou aos pódios, mantendo sempre uma vantagem confortável sobre Viñales, mas o espanhol da Honda continua muito longe da Márquez, que é o único que consegue imiscuir a RC213V na luta pelas vitórias.